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Capítulo 5

    Capítulo 5: O estrangeiro

Eles pegaram caminhos diferentes e se separaram.

Thorfill foi em direção às montanhas, às vezes fazendo algumas paradas rápidas para o seu cavalo descansar e beber água. Ele achava que cavalgar era exploração demais para o animal e desceu do seu cavalo no meio do caminho, quando o grandão de cascos grandes estava bebendo água de um rio próximo. 

Enquanto o cavalo descansava, Thorfill se sentou no gramado da colina para pensar. A brisa estava calma e havia uma colmeia de mel próxima em um bosque solitário. Os olhos de Thorfill encararam aquilo com profunda nostalgia, pois ele não gostava de nada doce, mas um dia ele havia experimentado bolinhos de mel e saboreou com gosto a calda doce melada em cima do bolinho. 

Thorfill caminhou até a colmeia e se lembrou da primeira vez que comeu algo feito de mel. 

Foi há cinco ou seis anos atrás, quando um outro continente estava nascendo no mundo. 

Um estrangeiro incrivelmente bonito atracou um barco pequeno na praia da Ilha de Reiwa e Enon estava com esse homem. Na época, Thorfill havia pegado um pequeno barco para fugir da Ilha de Reiwa; ele estava acostumado a fugir e acabou se encontrando com os dois na orla da praia. Thorfill rapidamente se escondeu de seu pai por medo e ficou escutando os dois terem uma conversa breve. 

O estrangeiro sabia falar o idioma de Enon e ele disse seriamente para o mesmo: "Tem certeza disso? É um suplemento essencial para o seu próprio povo…" 

Enon se virou para trás e disse com um tom de voz debochado: "Apolo, eu não ligo para esse povo. Apenas extraia tudo, se divirta e diga para o seu pai que a minha dívida com ele já está paga!" 

Os lábios do estrangeiro tremeram e ele suspirou pesadamente, "O meu pai não ficará satisfeito apenas com alguns barris. Temo que em alguns anos, ele faça uma declaração para mim invadir essa ilha." 

"Faça isso." Enon deu de ombros, "E não demore." 

Enon começou a caminhar em direção a floresta e Thorfill teve que andar lentamente até a praia, para despistar o seu pai. Ele estava desesperado para sair da Ilha de Reiwa logo e não havia levado nada com si. Thorfill já estava com fome e frio, e o mar estava agitado. Sorrateiramente, Thorfill escolheu se infiltrar no pequeno barco daquele estrangeiro e permaneceu por dias em silêncio, deitado com um monte de panos pesados e grossos em cima dele. 

Thorfill permaneceu deitado por dias, porém o seu estômago rugia furiosamente com fome e um dia o estrangeiro o achou. Ele tinha apenas treze ou quatorze anos na época, e fantasiou que o estrangeiro iria matá-lo rapidamente por ser um pirata! 

Porém, o estrangeiro encarou Thorfill atentamente e perguntou: "Há quanto tempo você está escondido aí?" 

O estrangeiro tinha belos olhos azuis, cabelos longos e pretos amarrados em um rabo de cavalo alto. Ele era absurdamente bonito e Thorfill se levantou rapidamente com constrangimento, dizendo: "Não sei." 

"Não sabe?" O estrangeiro arqueou as suas belas sobrancelhas escuras e suspirou, "Qual seu nome?" 

"Thorfill." Dizendo rapidamente, Thorfill olhou distraidamente ao seu redor. Ele notou que estava no meio do mar e não havia nenhuma ilha por perto, então ele exclamou feliz: "Eu consegui fugir!" 

"Filho de Enon?" O estrangeiro sussurrou e apoiou a sua cabeça em suas mãos, "Voltaremos para a Ilha de Reiwa." 

Thorfill estava tão feliz que apenas escutou o seu estômago roncar. Ele olhou para o estrangeiro com olhos suplicantes e o estrangeiro o encarou com frieza, dizendo: "Não há nada para comer aqui." 

"Como você pode viajar sem comida?!" Thorfill disse com a voz embargada. Ele estava com muita fome e apoiou o seu cotovelo em um mastro do barco enquanto esfregava a sua barriga. Thorfill disse: "Você não pode fazer isso, precisa levar comida em suas viagens, caso contrário, você pode acabar desmaiando de fome no meio do mar. Sua família ficaria triste se fosse para o porto e não encontrasse o seu barco à distância." 

O estrangeiro mastigou os seus lábios de aparência saudáveis e se afastou de Thorfill, que estranhou isso e perguntou: "Senhor Apolo, onde você vai?" 

"Como você sabe o meu nome?" O estrangeiro se virou, "E por que senhor? Eu não estou tão velho." 

Thorfill deu de ombros, "Ouvi meu pai dizer Apolo, e imaginei que fosse o seu nome… aliás, Apolo não é o nome do deus mais belo do Olimpo? Você é o filho de Zeus?" 

Eu sou inteligente e estudo a história de vários deuses!

O estrangeiro pareceu ignorar esta pergunta e retornou com algo em mãos. Ele estendeu para Thorfill e disse: "É a única coisa comestível que eu sei fazer e é a única coisa que tem neste barco para comer." 

Thorfill encarou as mãos limpas do estrangeiro e sobre elas havia uns bolinhos amarelos meio embrulhados com papel. Thorfill não sabia o que era aquilo e perguntou: "Por que isso é amarelo?" 

"É feito de mel." O estrangeiro disse, "E há calda de mel em cima da massa."  

"Você gosta muito de mel pelo jeito." Thorfill pegou um bolinho ao se aproximar do estrangeiro. 

Ele não gostava de coisas doces, porém aquele bolinho era a única coisa que tinha para comer. Ele engoliu um por conta da fome e depois conseguiu saborear o segundo e o terceiro. Suas papilas gustativas quase surtaram! Aquilo era absurdamente gostoso! 

O estrangeiro ofereceu todos os bolinhos para ele, porém Thorfill estendeu de volta para o estrangeiro com relutância. 

Ele realmente amou os bolinhos de mel… mas ele não podia comer tudo e não deixar nada para o estrangeiro comer. Ele disse: "Você fez, você come." 

"Tudo bem." O estrangeiro disse tranquilamente, "Agora que você comeu, voltaremos para a ilha de Reiwa." 

Thorfill rapidamente começou a engasgar, "Mas eu acabei de fugir de lá!" 

"Por que fugir do seu lar?" O estrangeiro perguntou com confusão evidente, "Você não gosta de lá?" 

"Eu sou um viking." Thorfill se levantou rapidamente, "Eu pertenço ao mar e não à um pedaço de terra cheia de pessoas ignorantes e exploradoras." 

O estrangeiro afagou o seu cabelo longo e suspirou, "Eu compreendo, mas ainda sim terei que te levar de volta. O seu pai deve estar preocupado…" 

Suas palavras pararam abruptamente quando Thorfill pulou do barco! 

O estrangeiro tentou agarrá-lo, mas Thorfill nadou rapidamente pela água fria do mar e acenou estando próximo do barco ainda. Ele gritou para o estrangeiro: "Obrigado Apolo!" 

O estrangeiro apenas observou isso friamente e desistiu de recuperar o pequeno ouriço fujão, "Entre de volta, você irá pegar um resfriado ou coisa pior." 

"Você está prevendo isso?" Thorfill perguntou surpreso e nadou como um peixe, demonstrando que não entraria no barco novamente. "Não posso voltar para a Ilha de Reiwa. Eu não gosto de lá e não suporto ficar perto do meu pai. Por que você o trouxe de volta para casa? Estávamos bem sem ele." 

"Enon é tão ruim assim?" O estrangeiro sentou-se no chão do barco e apoiou-se na borda do mesmo. Ele perguntou encarando Thorfill na água: "Para onde você quer ir então? Eu o levarei." 

A boca de Thorfill se abriu em um perfeito 'O' pela surpresa e os seus olhos brilharam de entusiasmo. Ele disse animadamente: "Para a Península da Ásia!" 

"Isso é muito longe." O estrangeiro pareceu querer rir por conta das fantasias infantis e inocentes de Thorfill, "Nem mesmo um pirata iria conseguir chegar até lá. Não há nenhum mapa indicando uma rota no mar e nem mesmo um comerciante se arriscou em ir para lá. Até mesmo Pan Ku não gosta daquele lugar e vive na Grécia."

Thorfill ficou triste ao ouvir isso e ficou em silêncio. Ele estava cabisbaixa e o estrangeiro rapidamente parou de brincar com ele e perguntou: "Já ouviu falar da 'Rota da Seda'?" 

"Não." Thorfill negou levemente com a cabeça. 

"É um conjunto de caminhos em terra que poderão te levar até a Península da Ásia." O estrangeiro mexeu em suas roupas e estendeu algo na direção de Thorfill. Era um papiro amarelado e nele havia um mapa desenhado. Diversas linhas vermelhas indicando diversos territórios diferentes. 

O estrangeiro disse: "Você pode conseguir encontrar uma caravana pelo caminho, um povo chamado ciganos ou druidas, eles viajarão pela Gália e Persa, e logo chegarão no Mundo Novo, onde reside o Imperador Tang." 

"Onde eu embarco?" Thorfill perguntou rapidamente. 

"Na Gália." O estrangeiro disse e levantou-se, "Meu país não fica muito longe dali. Eu posso levá-lo até lá." 

"Você não iria me levar para a Ilha de Reiwa?" Thorfill perguntou e afastou-se com receio. 

Ele não acreditava no estrangeiro, pois realmente não queria voltar para casa. 

"Eu compreendo você, nem sempre nossa casa é o melhor lar e às vezes queremos fugir para bem longe para poder nos sentirmos vivos." O estrangeiro disse frivolamente e suspirou. 

Um vendaval marítimo bagunçou os seus cabelos. Ele permaneceu inabalável e disse fitando Thorfill profundamente: "Eu o levarei, porém iremos nos separar assim que chegarmos na bacia da praia da Gália Cisalpina. Ali é um lugar pertencente à Deusa Danu, e não seria bom eu me aproximar muito." 

"Por quê?" Thorfill perguntou tentando entrar dentro do barco novamente, mas ele percebeu que isso estava sendo um pouco difícil, já que a pressão da água parecia estar sugando o corpo dele para dentro do mar novamente. O estrangeiro ajudou ele e Thorfill sentou-se no chão, ele rangeu os dentes por conta do frio e abraçou-se tentando conter o vento gelado. 

"Por que você quer ir para a Península da Ásia?" O estrangeiro ignorou a pergunta de Thorfill. 

"Há uma lenda que diz que lá tem samurais, eu não sei o que é isso, mas dizem que eles são mais fortes que os vikings e lutam melhor que nós." Thorfill disse com dificuldade, já que os seus dentes estavam batendo um nos outros. Ele gaguejou um pouco: "Pre-preciso comprovar se isso é verdade." 

O estrangeiro apenas franziu as suas sobrancelhas escuras e bem delineadas. Ele virou-se procurando por algo em meio a sua organização em um canto do barco e, desembalou algo e estendeu para Thorfill, dizendo: "Um viking vive em territórios extremamente frios. Por sorte, a Ilha de Reiwa está em um clima bom no verão. Mas por que você saiu sem levar nada? Comida e roupas quentes são essenciais."

"Eu precisava fugir rapidamente, antes que Enon me pegasse no flagra." Thorfill pegou o manto grosso feito com penas de falcão e passou por seus ombros, como se estivesse usando uma capa protetora contra o frio. O manto era quente e tinha um cheiro de osmanthus. 

Thorfill sorriu timidamente e agradeceu: "Obrigado por isso, eu tenho uma grande dívida com você."

"Pague no futuro." O estrangeiro deu de ombros, "Você é novo ainda e está se desenvolvendo. Por enquanto, conquiste o máximo de sonhos possíveis, até porque, logo você será o Lendário Viking de Reiwa e não terá muito tempo para correr atrás de seus sonhos e a sua única preocupação vai ser com os desejos ignorantes de seu povo." 

"Você parece me entender tanto!" Thorfill disse surpreso e perguntou abismado: "Você é um Lendário Viking de Reiwa também?!" 

O belo semblante do estrangeiro se franziu ao responder com desgostoso: "Não, eu não sou. Mas logo serei um líder e posso compreender os nossos destinos." 

Inocentemente, Thorfill perguntou: "Não podemos apenas fugir disso?" 

"Fugir? Nascemos apenas para isso, somos herdeiros." O estrangeiro falou sombriamente como se não gostasse daquele assunto, "Destino traçados pelas mãos de pais soberbos que tiraram a conclusão de que seus filhos devem superá-los no futuro. Absurdamente repugnante." 

Thorfill não se assustou com as palavras raivosas, ao invés disso… ele sorriu com o jeito do estrangeiro e disse: "Você parece um gatinho ranzinza." 

O estrangeiro entrou em um súbito silêncio, "......................" 

Depois daquilo, o estrangeiro ignorou Thorfill por dias e remou sob chuva e sob sol até chegar na bacia da praia da Gália Cisalpina; era como se ele quisesse se livrar daquele pequeno viking logo e estivesse fazendo de tudo para chegar no destino de Thorfill para jogá-lo em Gália e o abandona-lo rapidamente. 

Thorfill foi o caminho todo engajando uma conversa com ele, mas o estrangeiro apenas escutava e nunca respondia. Mas depois de alguns dias de viagem, os dois conversaram. 

Thorfill viu que o estrangeiro estava com um cantil amarrado na cintura e perguntou: "Isso é vinho? Eu posso beber?" 

"Você é uma criança." O estrangeiro franziu o cenho, "Como pode estar pensando em beber nesta idade?" 

Thorfill arqueou as suas sobrancelhas em desafio. Ele era um viking que já havia recebido o seu título. Ele disse: "A anciã já beijou os meus lábios na cerimônia da vida adulta, eu posso beber e saquear à vontade. A partir da cerimônia, eu já sou considerado um adulto!" 

Os lábios do estrangeiro se contorceram do que parecia ser desgosto, "Beijando crianças, incentivando o uso de álcool em uma faixa etária em que acontece o desenvolvimento; isso pode trazer prejuízos inimagináveis para a sua saúde e ainda incentivam uma criança a roubar. Sua cultura é excepcionalmente maravilhosa."

"Não é?" Thorfill disse com inocência e não havia percebido o sarcasmo nas palavras do estrangeiro, "Eu sou um viking nórtico e já sou um guerreiro de Odin. Um dia irei entrar em Valhalla com certeza e serei recebido por um banquete enorme." 

Imaginando isso, o estômago dele roncou. O estrangeiro disse friamente: "Não tem nada para comer agora. Você comeu os meus últimos bolinhos de mel." 

Thorfill deu um sorriso envergonhado por, realmente, ter comido os últimos bolinhos de mel. Ele disse: "Eu sei cozinhar. Irei pegar alguns peixes e assar." 

Ele encarou o mar e ficou várias horas sentado, tentando encontrar um peixe, mas o cardume sempre se afastava do barco do estrangeiro como se pressentisse a morte chegando para eles ali. Thorfill disse zangado: "Os peixes não querem vir para o abate." 

"Ninguém quer morrer." O estrangeiro disse começando a remar, "Deixe-os em paz." 

"Você gosta de peixes e por isso não quer vê-los morrer?" Thorfill virou-se e sentou-se de frente para o estrangeiro.

"Eu gosto." O estrangeiro disse tranquilamente, "Eles são silenciosos, sabem se cuidar, não ficam me atormentando e o melhor de tudo: não falam." 

Thorfill rapidamente ficou quieto, porém não aguentou este fardo e falou: "Eu gosto de animais também, a carne deles são…" 

O estrangeiro encarou Thorfill seriamente e ele parou de falar sobre a carne de animal ser bastante suculenta e gostosa. Ele emburrou em um canto do barco e encarou o mar. Perdido em pensamentos sobre aquele estrangeiro estranho e mal-humorado. Por que ele é tão frio e tem um humor tão temperamental? O nórtico dele também é muito bom e o sotaque dele é incrivelmente bonito! Mas o humor dele é péssimo… 

"Você deveria beber um pouco de água." O estrangeiro disse de repente. Os seus olhos azuis fitaram o céu escaldante e uma gotícula de suor deslizou por seu belo rosto. Thorfill virou-se para ele e percebeu que o rosto do estrangeiro tinha duas pintinhas nas bochechas e um perto dos lábios. 

Ele parecia ter sido atraído por isso e falou: "Suas pintinhas são fofas." 

O remo escorregou da mão do estrangeiro e quase caiu na água. Ele se exaltou com Thorfill, "Você é estranho!" 

"Eu tenho sarda em minhas bochechas, mas elas são feias, porém as suas pintinhas são fofas." Thorfill disse com um olhar inocente. 

O estrangeiro encarou as sardas no rosto de Thorfill. Ele ficou em silêncio por um tempo e depois disse: "Não são feias." 

"As pessoas dizem que elas são." Thorfill deu de ombros.

O estrangeiro revirou os seus olhos como se tivesse acabado de ouvir um absurdo. Ele ignorou este assunto e agarrou o seu cantil e estendeu na direção de Thorfill dizendo novamente: "Você deveria beber um pouco de água, caso contrário, você terá uma desidratação crônica ou umas pedras nos rins." 

Thorfill já estava com dor de cabeça e tontura por conta do sol. Ele pegou o cantil de água e deu grandes goles no líquido fresco. Ao terminar, Thorfill soltou um suspirou gratificante ao matar a sua sede e perguntou: "Você é um feiticeiro médico?" 

O cenho do estrangeiro franziu-se, "Feiticeiro médico?" 

"É." Thorfill balançou a sua cabeça, "Um homem que conhece o corpo humano e sabe reconhecer doenças e infecções. Eu chamo isso de feiticeiro médico." 

"Que conceito maravilhoso." O estrangeiro disse frivolamente com sarcasmo. 

Thorfill ignorou a falta de resposta do estrangeiro e perguntou: "Você tem algum problema de saúde? Andar com um cantil na cintura significa apenas duas coisas: que você é um bêbado ou um doente. O bêbado leva o álcool ao seu lado e o doente leva remédio em seu cantil. Que doença você tem?" 

"Nenhuma, ainda." O estrangeiro pegou o cantil de água de volta e amarrou em sua cintura, "Mas em meu estômago há um grande monstro que fica chutando os meus rins. Ele suga toda a água de meu corpo e tenta deixar pequenos cristais de sais ali para me corromper e me levar a insanidade." 

Thorfill se assustou e arregalou os olhos. A cor lhe fugiu do rosto e o estrangeiro deu um meio sorriso ao ver que conseguiu assustar Thorfill. Ele disse: "Há um meio de vencer este monstro." 

"Como?" Thorfill perguntou. 

"Bebendo água." O estrangeiro disse calmamente. 

"Incrível." Thorfill disse. 

Os dias se passaram calmamente e a cada dia a aventura dos dois estava chegando ao fim. Gália Cisalpina seria recebida com a ilustre presença do futuro Viking de Reiwa e só um oráculo poderia prever que artimanhas aquele garoto produziria em um país desconhecido cheio de druidas. Thorfill estava tranquilo, ainda era um criança embarcando rumo ao desconhecido e estava freneticamente sendo invadido por ansiedade e animação. O estrangeiro passou os dias, infelizmente, comendo os peixes que Thorfill preparava no barco e os dois sobreviveram assim. 

"Estamos chegando?" Thorfill perguntou de repente.  

"Ainda não." O estrangeiro respondeu. 

Depois de um tempo. 

"Já estamos chegando?" Thorfill perguntou novamente. 

"Ainda não." O estrangeiro respondeu novamente. 

Os olhos azuis dele fitaram Thorfill com raiva e o pequeno viking ficou em silêncio por um tempo. Ele declarou que não iria mais falar com o estrangeiro depois daquilo e começou a mexer em algumas coisas no barco. Thorfill distraidamente mexia nas coisas do estrangeiro; e ele apenas observava. Thorfill pegava algumas coisas e depois não colocava no lugar. As sobrancelhas do estrangeiro arquearam-se com isso e ele pareceu aflito. Ele levantou-se por conta de um comichão e começou a arrumar as coisas que Thorfill havia bagunçado. 

"Estrangeiro, há muitos livros em seu barco." Thorfill disse pegando um livro qualquer de capa dura, "Você escreve?" 

"São os livros da minha prima." O estrangeiro disse arrancando o livro das mãos de Thorfill, "Você não tem idade para ler este tipo de conteúdo. Ela escreve coisas estranhas e depois me obriga a distribuir pelas penínsulas." 

"Por que você me trata como uma criança?" Thorfill perguntou cruzando os braços, "Como a sua prima se chama?" 

"Demerí." O estrangeiro respondeu. Ele puxou uma madeira frouxa do barco e escondeu os vários livros ali enquanto dizia: "Devo te tratar como um adulto? Comece remando o barco então." 

Thorfill rapidamente agarrou os remos e prostrou-se em remar. Então, o estrangeiro deitou-se tranquilamente e adormeceu profundamente por horas. Thorfill ficou remando sem saber a localização e desistiu. 

Ele não queria mais ser tratado como um adulto e, chacoalhado o estrangeiro, gritou: "Estrangeiro, eu não sei a direção para a Gália Cisalpina. Acorde, estrangeiro!" 

O estrangeiro sentou-se com o seu semblante indicando mau humor. Ele pegou os remos novamente e sem dizer nada remou. Thorfill sentou-se ao lado dele e ficou em silêncio também, mas ele logo perguntou por curiosidade: "De onde você é?" 

"De um lugar cheio de gente maluca e deuses festeiros." O estrangeiro disse sem muita emoção. 

Ele ficou confuso com isso e perguntou buscando por conhecimento: "Então você nasceu da Península Escandinava?" 

"Claro." O estrangeiro deu de ombros, "Lá é o único lugar que existe gente maluca e deuses festeiros." 

Thorfill tirou a conclusão de que o estrangeiro estava mentindo sobre aquilo e estava tentando enganá-lo. Ele cruzou os braços e negou-se a falar com o estrangeiro; que apenas o ignorou ainda mais também. O céu começou a ganhar um aspecto nublado, o estrangeiro encarou aquilo com olhos frios. Não havia nenhuma ilha pelas redondezas, não teria como fazer uma parada. 

O estrangeiro praguejou em um tom baixo ao pressentir que logo choveria. De repente, Thorfill sentiu algo quente em seus ombros. Aquele manto feito de penas de falcão, magicamente, se tornou um escudo protetor ao redor dele. A chuva não pôde penetrar ali e Thorfill se sentiu aquecido. Mas, o estrangeiro iria se ensopar. Thorfill o encarou, aquele homem estava com olhar vago, parado e parecia estar observando os raios que iluminavam o céu. Ele parecia absorto, Thorfill nunca o havia visto assim e estranhou. 

"Apolo?" Thorfill chamou se aproximando. 

O estrangeiro não respondeu, ele apenas continuou observando os raios e trovões com os olhos mortos. Thorfill ficou assustado com aquilo, sentou-se ao lado do estrangeiro e compartilhou o manto com ele. Os dois ficaram protegidos da chuva. Thorfill encolheu-se como um tatu bola e escorou-se na lateral do corpo do estrangeiro; que ainda não havia se recuperado do choque e estava em silêncio. Os barulhos estridentes dos raios acabaram sendo abafados ali naquele lugar caloroso. 

"Meus irmãzinhos tem medo de raios e trovões também." Thorfill fungou levemente, lembrando-se que Flony e Aske eram crianças menores e medrosas. "Quando os barulhos estrondosos começavam, eu cantava para eles, isso repelia o medo deles. Mas agora eles estão tão longe de mim…" 

O estrangeiro não respondeu, Thorfill estava divagando sozinho, tristemente colocando as suas lamentações para fora. Ele disse baixo: "Antes de ir para o mar, meu pai disse que iria me matar quando retornasse. Por isso fugi, agora toda a minha família está longe." 

"Eu deveria ter deixado ele afogar." A voz rouca do estrangeiro disse em um tom baixo. 

Thorfill ficou em silêncio, não compreendendo as palavras do estrangeiro. Antes que ele pudesse perguntar, o estrangeiro disse com a voz abafada: "Você é uma boa criança. Use o seu pai como um exemplo, um exemplo que não deva ser seguido. No futuro, seja alguém diferente dele." 

"Eu vou!" Thorfill disse com confiança e braveza, "E quando eu crescer, irei proteger você e os meus irmãos, os raios e trovões não poderão assustá-los mais!" 

"Hoje em dia é as crianças que protegem os adultos?" O estrangeiro franziu o cenho, inconformado com as palavras de Thorfill. "Para me proteger, você tem que ter dois metros de altura, ser mais forte que um espartano, e tem que ser mais bonito e inteligente que os deuses." 

Os olhos de Thorfill piscaram algumas vezes, sendo dominado pelo sono. Ele bocejou e disse suavemente: "Eu vou…"

Para o sossego reinar ali, Thorfill finalmente adormeceu profundamente. 

Quando ele acordou novamente… 

Ele estava deitado em algo macio. Suas mãos apertaram a areia abaixo dele e ele sentou-se rapidamente olhando tudo ao seu redor. Não havia mais um estrangeiro ao seu lado ou um barco. Thorfill estava sozinho, deitado na areia de uma duna isolada e mortalmente silenciosa. 

Além das dunas, apenas areias frias. 

E nada além disso. 

Thorfill sentou-se desesperadamente e percebeu que estava com aquele manto branco feito de penas de falcão ainda. Ele usou como uma capa e levantou-se removendo a areia de suas roupas simples. Seu caminhar foi lento até o mar e o vento chicoteou o seu rosto de semblante triste. O estrangeiro havia ido embora sem aviso prévio, sorrateiramente havia partido e deixado o pequeno viking na Gália Cisalpina. 

Ele nunca mais havia visto aquele estrangeiro, porém ele amava bolinhos de mel por causa dele. 

Thorfill embarcou em sua jornada com uma caravana cheia de ciganos e aprendeu o idiomas deles depois de vários meses de convivência. Fizeram uma breve viagem para a província do Império Romano e pularam na Pérsia. Ele conheceu um jovem chamado A-Tay, um homem loiro que usava um leque como acessório. Ele mostrou o caminho para a Península da Ásia e Thorfill separou-se da caravana indo para um país cheio de samurais com ele. A-Tay disse que iria para o Mundo Novo e deixou Thorfill sozinho logo depois. 

Ele conheceu um samurai chamado Mojito e permaneceu com ele por dois anos para aprender a lutar com uma espada chamada katana. 

"Você acha que isso é uma espada comum, não é?" O samurai de olhos puxados perguntou e disse: "Mas ela é mais que isso. A katana é uma espada com lâmina espessa e longa, de aproximadamente setenta e cinco centímetros de comprimento, ligeiramente a lâmina é curvada, fabricada em aço de alta qualidade. Tem fio de corte em somente um dos lados, ponta em forma de cunha com grande poder de perfuração."

Thorfill ficou em silêncio prestando atenção, "......................" 

Ele era um samurai ou um ferreiro? 

Depois, Thorfill retornou para a Ilha de Reiwa por conta do festival dos deuses. Era de extrema importância que ele e a sua família viajassem para o norte, para ir para o Templo de Uppsala oferecer oferendas para os deuses. Thorfill preparou as suas coisas e voltou para casa com uma caravana cheia de druidas, que ensinaram para ele muitas coisas. 

Os Druidas eram bastante diferentes dos ciganos. Os ciganos eram bastante animados, enquanto os druidas eram calmos e bastante filosóficos. Eles eram bastante intelectuais e menos religiosos. Thorfill teve uma visão diferente sobre a vida com eles e acabou se esquecendo de voltar para a casa. 

"Vocês sabem que tem uns nativos que amam a natureza e o sol como os seus deuses?" Um druida ancião perguntou em volta de uma fogueira. 

Uma druida bastante respeitada na caravana disse: "Quanta espiritualidade." 

Thorfill estava no meio da roda cheia de druidas e perguntou curioso: "Quem é o deus de vocês?" 

"Danu, a Deusa Mãe." Uma druida disse. Ela agarrou um punhado de areia rosada no chão e tacou no fogo da fogueira. Thorfill assustou-se quando as chamas se transformaram em uma bela mulher. A Druida continuou a dizer: "Acreditamos completamente nela e somos fiéis a ela, assim como somos fiéis ao marido dela. Embora não possamos revelar o nome dele, ele é muito forte e gentil." 

A mulher feita de fogo dançou sobre a fogueira, ela rodopiou e, como se fosse um vagalume, voou na direção de Thorfill. As mãozinhas dela eram realmente pequenas, ela desistiu de tocar o rosto de Thorfill e voou de volta para a fogueira, se tornando uma com o fogo abrasador. 

"Danu." Várias druidas suspiraram de admiração. 

"Ela criou Gália e os mares com a ajuda de seu marido. Logo depois, os dois se uniram e deram a luz ao primeiro druida e depois ao segundo. Os dois druidas se uniram e produziram mais outros druidas." A druida encarou Thorfill e depois desviou o olhar. Seus olhos de águia sobre as chamas estavam belos como as constelações das estrelas acima de sua cabeça. 

"Danu, a Deusa Mãe criou os sete continentes, eles sendo chamados por nós de: América, Europa, África, Ásia, Oceania, Antártida e Atlântida." O ancião druida disse pacificamente, "Ela é tão talentosa para…" 

"O quê?" Thorfill cerrou o olhar ao ver o fogo se transformar em sete pedaços de terras tomadas pela chamas escaldante da fogueira, "Há tantos continentes? Achei que houvesse apenas o continente europeu. E quanto as penínsulas? Península Escandinava, Península Somali, Península Balcânica…"

Ele aproximou-se da fogueira e as chamas refletiram em seus olhos. Ela já havia visitado o continente europeu, mas enquanto aos outros? Onde eles estavam? O mundo poderia ser tão grande assim? 

Os druidas pareciam saber de muitas coisas ocultas e Thorfill encarou os vários druidas presentes ao redor da fogueira em busca de respostas. 

"Há sete continentes." O ancião druida disse escovando a sua barba longa e branca, "É há sete deuses que estão cuidando desses continentes. Todos os conhecem, a Deusa Rá cuida da África, Pan Ku cuida da Ásia, Deus cuida da Europa, Tupã cuida da Oceania…" 

"Sobre o deus da Atlântida…" A anciã suspirou. 

"Não falamos sobre ele." Um druida a interrompeu, "Aquele continente perdido é amaldiçoado!" 

"Aquele lugar deve permanecer intocável." Uma mulher disse friamente, "Se o povo o encontrar novamente…" 

Thorfill ignorou isso, submerso em pensamentos. 

Havia sete continentes? 

América, Europa, África, Ásia, Oceania, Antártida e Atlântida… 

Aquele mulher continuou a dizer: "Atlântida, o continente perdido possuiu mais tecnologias do que a Ilha de Reiwa. Nem mesmo os deuses sabem tudo sobre aquele lugar. Seria tão divertido explorá-lo." 

"Danu!" Os druidas chamaram a atenção da mulher. 

A mulher riu, dizendo: "Estou falando apenas a verdade. Não seria incrível? Eu gostaria de visitá-lo. Thorfill, você acha que seria possível viajar para lá? Os seus navios vikings poderiam conseguir navegar até a África?" 

"Onde fica a África?" Thorfill franziu os lábios ao escutar aquela palavra estranha. 

"Península Somali." O ancião druida respondeu. As chamas do fogo iluminaram os seus olhos azuis escuros e Thorfill, por um momento, ficou em silêncio. O ancião disse: "O continente perdido está próximo da África, ele fica entre a América do sul e a África. Atlântida está no meio." 

"Ancião!" Uma druida gritou se levantando, "Por que está dizendo isso para ele? Cesarino já matou Ryan e conseguiu o mapa do continente perdido. Se Cesarino descobrir como ir para Atlântida, então, só podemos assistir o fim do mundo! Um viking com certeza conseguiria navegar para lá. Atlântida, o continente perdido, não deve ser visitado por humanos!" 

Atlântida, o continente perdido? 

Thorfill nunca havia escutado aquilo. 

"O oráculo disse que Thorfill tem um bom coração." O ancião druida disse, "O oráculo disse que ele é gado, um pouco bruto também e eu não compreendi muito bem aquelas palavras, mas foquei na parte do coração bom. Ele não irá procurar por Atlântida em busca de ignorância, ele irá buscar pelo continente perdido em busca de salvar a sua alma gêmea." 

Thorfill: "?" 

De repente, ancião druida o fitou profundamente, dizendo: "Thorfill, o oráculo disse que há alguém por quem você procura. Ele irá aparecer quando você menos esperar, então aguarde." 

Thorfill começou a achar que os druidas eram loucos e retornou para a Ilha de Reiwa depois de três anos.

E pelos anos seguintes, o estrangeiro nunca mais apareceu.

O encontro de Thorfill com o seu pai aconteceu na faixa de areia da praia. Enon estava sozinho, esperando como se sentisse que o futuro Lendário Viking de Reiwa estava voltando para casa. Thorfill não era mais aquele garoto medroso que se enfiou no barco do estrangeiro, ele havia se tornado um homem forte e inteligente. Até mesmo Enon ficou um pouco surpreso, porém a sua ignorância venceu a sua racionalidade e ele mais uma vez tentou usar a violência para prender Thorfill na Ilha de Reiwa. 

Mas aconteceu algo diferente naquele dia. 

Thorfill estava farto de seu pai… 

Atualmente, Thorfill retornou para a realidade após perceber que o mel daquela colmeia no bosque estava seco! 




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APRESENTAÇÃO DA OBRA:  SINOPSE SUJEITA A ALTERAÇÃO:  – “Há apenas uma única ação tola, capaz de gerar uma grande consequência do que, um dia, alguém julgou ser uma boa escolha.” – ditou o pai, sorrindo calmamente. – Apaixonar-se é essa escolha, Yin Chang.  Nenhum leitor troll seria capaz de revelar que essa frase tão reflexiva e pertencia ao livro "Guerrilha de Zhou", por simplesmente odiá-lo. E Shen Shining, que era um leitor troll, não era diferente dos demais.  Ele, que encontrou por acaso o arquivo misterioso do livro em seu notebook, acabou tendo a curiosidade atiçada. Por ler apenas metade da sinopse curta de Guerrilha de Zhou, uma chuva de insultos saiu de sua boca:  – Harém, lutas, artes marciais, plot twist? Que porcaria é essa?!  Abocanhando um pedaço de pizza envenenada, ele continuou xingando até perder o foco da visão e cair no chão, morto. O tal se vê em uma situação problemática quando tem a alma teletransportada para o enredo libertino do livro que l

BLLAU NOVELS

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Lúcifer, a estrela do amanhã

Heilel Ben Shachar, o portador da luz.  Ele, que foi contra Deus, caiu no mundo e espalhou a sua doutrina e ensinamentos acaba conhecendo Jesus. O mais conhecido como Lúcifer, o leva para um monte altíssimo, e lhe mostra todos os reinos do mundo e a sua glória.  Heilel Ben Shachar questionou Jesus sobre Deus várias vezes, este mesmo ficou em silêncio e se negou a responder. Sob o silêncio, Lúcifer imitou um ditador do qual ele venera, com ironia e sarcasmo.  Jesus, perante aquilo, calou-se no encontro. Depois disso, perante os seus seguidores, Jesus diz: A estrela da manhã tens bastante sabedoria. Ele é mais sábio que Daniel. Não somente é bonito, mas também muito inteligente.  Até o filho do adversário de Heilel Ben Shachar reconhecia a sua sabedoria!  Ao ouvir suas palavras, Heil Ben Shachar, com o seu jeito irônico e sarcástico, se torna um seguidor de Jesus. Sempre o questionando do porquê seguir Deus.  Porém, os questionamentos passam dos limites quando Heil Ben Shachar se aproxim