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Capítulo 16

   Capítulo 16: O assassino apareceu, ele está no salão festivo! 

Thorfill saiu da câmara de Apolo, ainda pensativo e caminhou lentamente pelo corredor vazio. Ele respirou profundamente e resolveu procurar pelo Marechal Hermes no momento, em busca de ajuda para pegar o assassino de Ravi. 

"Ei, você aí!" Alguém gritou fazendo a sua voz retumbar pelo corredor.

Thorfill virou-se rapidamente para trás, porém não havia ninguém ali e ninguém à sua frente também. 

"Estou dentro da câmera." A voz conhecida gritou novamente. 

Thorfill percebeu que havia uma porta aberta no corredor e caminhou até ela. Ele acabou encontrando Demerí dentro de uma câmara escura. A mulher estava sentada enquanto se apoiava em uma mesa para escrever. Havia uma vela ao seu lado que queimava intensamente e iluminava um pouco o ambiente abafado. 

"O que você está caçando?" Demerí perguntou sem desviar a sua atenção de um livro exposto na mesa. Havia um pincel em sua mão e ela escrevia freneticamente. 

"O assassino de Ravi." Thorfill escorou-se no batente da porta da câmara e cruzou os braços por conta da preguiça. 

"Ele ainda não foi encontrado? O Marechal Hermes é muito inútil mesmo!" Demerí apertou o pincel em sua mão e a ponta dele tremeu, respingando tinga preta no ar, manchando o livro em seguida. Demerí gritou furiosamente: "Meu livro! Que merda, eu me esforcei tanto! Como eu vou colocar isso escondido na biblioteca pública agora?!" 

Thorfill franziu os lábios ao ver que Demerí começou a chorar compulsivamente. 

"Eu me esforcei tanto!" Demerí disse com a voz embargada, "Foi tão difícil trabalhar na personalidade dos meus personagens, isso é muito difícil. Eu quase me matei por não conseguir evoluir a minha escrita. As musas da criação artísticas não querem que eu seja escritora?! Ótimo, eu não serei!" 

Demerí realmente parecia inconsolável e Thorfill não sabia o que fazer. Ele deixou a mulher desabafar sozinha e se retirou. 

"Não, não vá ainda!" Demerí gritou e Thorfill virou-se. Demerí se levantou e se aproximou dele timidamente, no momento seguinte, ela deu um sorriso tenebroso e perguntou: "O que você estava fazendo no quarto do Apolito?" 

"Investigando." Thorfill disse estranhando a aproximação dela. 

"Tem certeza que você não é um tarado que foi cheirar as roupas dele? Estou cansada de encontrar o rato do Leonhardt fazendo isso." Demerí se aproximava cada vez mais, como se quisesse pressionar Thorfill a dizer algo. "Inclusive, o encontrei hoje fazendo isso." 

"O quê?" Thorfill perguntou surpreso, "Ele está no palácio?" 

Demerí não respondeu. Ela se sentou novamente em uma pose desleixada e apoiou as pernas em cima da mesa, perguntando: "Como Apolo está?" 

Thorfill rapidamente esqueceu-se do assunto anterior e respondeu: "Não sei dizer. Depois da morte do Ravi, ele bebeu álcool e apenas."

Ele obviamente ocultou algumas coisas.

Demerí virou-se para encarar Thorfill e o olhou atentamente em silêncio. Depois, ela deu uma risada curta e disse: "Oh fofinho, isso significa que ele está muito mal então." 

No instante seguinte, ela abaixou o olhar e os seus cílios volumosos tremeram. Sua mão em punho socou a mesa à sua frente e Thorfill deu um pulo de surpresa. Demerí pareceu ter se acalmado depois do soco e abriu uma gaveta da mesa, dizendo: "No dia dez de métagitnion, acontecerá um espetáculo no anfiteatro do centro. Você teria interesse em ir? Eu tenho dois ingressos." 

Thorfill ficou em silêncio, não compreendendo o rumo da conversa. "..................." 

Demerí sentiu que Thorfill havia compreendido as suas intenções errado e rapidamente explicou: "Eu não estou te chamando para um encontro. Eu lhe darei os dois ingressos e você convida alguém… especial para ir com você. Alguém que está triste no momento e precisa de um agrado. Compreende?" 

"Não." Thorfill franziu o cenho confuso, realmente não compreendendo. 

Demerí ficou em silêncio, "................." 

Os dois se encararam em silêncio por um tempo. Demerí parecia estar xingando Thorfill mentalmente e os seus olhos cerraram-se como o de um gato sorrateiro do Egito e ela lentamente fechou a gaveta. 

Thorfill se sentiu apreensivo com aquilo e pensou no momento de pressão. Ele depois perguntou um pouco com receio: "Você quer que eu leve…?" 

"Sim." Demerí não esperou ele terminar a sua pergunta e abriu a gaveta novamente, "Eu ganhei os ingressos de uma amiga e não sei do que se trata o espetáculo, mas com certeza Apolo irá gostar. Ele sempre amou peças de teatro." 

Ela estava claramente mentindo. 

Da gaveta, ela tirou dois pedaços de papel pequenos e estendeu para Thorfill, dizendo: "Isso será capaz de animá-lo um pouco." 

Thorfill pegou os ingressos e os guardou em um bolso seguro. Ele encarou Demerí e agradeceu: "Obrigado, mas eu não sei que dia é dez de métagitnion." 

"Daqui seis dias." Demerí sorriu e abanou a sua mão, "Agora saía. Eu estava escrevendo a declaração do casal do meu livro bem quando você me atrapalhou e eu preciso matar a alma gêmea do meu protagonista. Eu amo finais trágicos!" 

Ela gargalhou e Thorfill se retirou com medo. 

O palácio estava completamente vazio. 

Thorfill desistiu de procurar o assassino de Ravi com a ajuda do Marechal Hermes e ele resolveu esperar Apolo acordar. 

Ele não encontrou nenhum servente pelo caminho para poder perguntar onde tinha uma cozinha e ele teve que procurar sozinho. Ele encontrou um local parecido com uma cozinha e achou comida e bebidas armazenadas em vasos de cerâmicas; ânforas que ficavam suspensas acima de um balcão de madeira. 

Ele acendeu um pequeno braseiro para aquecer o ambiente frio. Thorfill mexeu em alguns vasos e encontrou farro e mel armazenados. Ele lavou as suas mãos em água fresca e fez o seu melhor na criação de vários bolos de mel recheado com baunilha. 

Não havia o que temer, Thorfill sabia cozinhar! 

Diferente de Apolo que só sabia fazer bolinhos de mel e nada mais que isso… 

Algumas horas depois, o sol abençoou Atenas com raios solares fortes. 

Apolo despertou-se e rapidamente caiu na cama novamente. Sua cabeça estava estourando! A sensação era excruciante e ele deixou um gemido de dor escapar de seus lábios entreabertos. Ele sentiu o colchão da cama afundar e rapidamente ficou em alerta. Seus olhos vagaram rapidamente pela câmara e a claridade o deixou cego por um tempo. 

"Apolo?" Alguém o chamou suavemente. 

Uma voz bonita, jovial e conhecida! 

"Thorfill?" Apolo tentou abrir os seus olhos novamente. 

"A ressaca é um castigo dos deuses, está escrito nos manuscritos." Thorfill brincou e agarrou a mão de Apolo, "Beba." 

A mão de Apolo agarrou um copo e ele rapidamente bebeu água fresca para matar a sua sede. Sua mente estava um pouco confusa, mas ele definitivamente não tinha Alzheimer. 

As coisas que ele havia dito para Thorfill! 

Apolo deitou-se novamente, como um coelho pulando na toca e se escondeu entre os edredons. Thorfill franziu o cenho com isso. 

O que ele havia feito de errado agora?! 

"Você está passando mal?" Thorfill perguntou. 

"Não." Apolo disse com a voz sendo abafada pelos panos, "Chame o Marechal Hermes para mim, por favor." 

Thorfill concordou com a cabeça e lembrou-se que Apolo não ia conseguir ver isso, então ele disse: "Estou indo." 

Apolo escutou a porta da câmara rangendo e suspirou aliviadamente. Ele puxou o edredom agressivamente de sua cabeça e quase se espancou. 

Quando ele havia se tornado tão frágil?! 

Enquanto ele gritava e surtava internamente, seus olhos vagaram para o lado e encontraram vários bolinhos com calda de mel em cima. Apolo franziu o cenho, perguntando-se quem havia feito aquilo. Porém, a tentação era muito grande e ele comeu alguns sem ao menos saber quem os havia feito. 

Enquanto ele dava pequenas abocanhadas na massa doce, uma lágrima escorreu de seus olhos tempestuosos e rolou para baixo.

Thorfill afagou os seus próprios cabelos e suspirou pesadamente ao sair da câmara. Ele ainda estava pensando em algumas coisas quando o salão festivo, mais uma vez, foi agraciado com uma comoção exuberante. 

Ele havia ido procurar pelo Marechal Hermes, por conta do pedido de Apolo. O palácio ainda estava em silêncio excruciante e absoluto. Os serventes estavam deitados em suas câmaras de descanso, esperando por alguma ordem de seu superior. Os deputados estavam sendo investigados junto com os seus servos pessoais. Estava tudo tranquilo, até um cheio de amêndoas e mel permear pelo ambiente. 

Thorfill rapidamente ficou em alerta e caminhou em passos lentos até o salão festivo. Ele abriu a porta sem hesitar ou temer qualquer coisa que estivesse lá dentro. Seus olhos percorreram o ambiente; que era iluminado pelos raios solares quentes e ele entrou no salão festivo. Seus passos ecoaram pelo salão vazio e isso atraiu a atenção de uma pessoa que estava calmamente sentada em uma cadeira próxima.  

A pessoa usava uma toga branca com manchas vermelhas. Pela aparência amassada do pano em determinadas áreas, era perceptível que as manchas vermelhas estavam fazendo o tecido encolher; poderia ser um fluído viscoso. 

Sangue. 

Thorfill rapidamente entrou em alerta, porém não fez nenhum movimento desnecessário e apenas encarou a pessoa friamente em silêncio. 

"Quanto tempo!" A pessoa disse se levando, "Eu realmente não o vejo faz um bom tempo, Lendário Viking de Reiwa." 

A pessoa era, de fato, Ártemis. Nos últimos meses, seu semblante havia adquirido mais algumas cicatrizes, e os seus olhos eram mortalmente assustadores. Lembrava e podiam ser assemelhados aos olhos de uma cobra sorrateira e perversa. Seus cabelos loiros haviam crescido um pouco e acabaram sendo amarrados em um rabo de cavalo alto e frouxo. Como dito, sua toga estava coberta de sangue. Ele exalava um cheiro peculiar: amêndoas e mel. 

"Não me chama assim." Thorfill disse rispidamente e foi logo ao assunto, perguntando: "Você matou Ravi?" 

"Meus pêsames." Ártemis disse timidamente, "Ele era o seu amigo, né?" 

Ele não havia respondido a pergunta de Thorfill, porém deu um sorriso triunfante e orgulhoso; ele claramente estava orgulhoso de suas ações. 

Ártemis havia matado Ravi. 

Thorfill não compreendia o que levou ele a fazer isso, "Por quê?" 

Os seus olhos dispararam-se com fúria. Thorfill não conhecia Ravi direito, porém como não ficar furioso diante aquela atrocidade? 

Indiferentemente, Ártemis respondeu: "Aquele gordo me irritava. Então eu o matei." 

Thorfill mediu Ártemis com um olhar e os olhos dele queimavam com cinismo e com raiva. Uma linha apareceu entre suas sobrancelhas e Thorfill disse: "Que motivo fútil você me deu. O que você queria, na verdade, era atenção." 

Ártemis piscou algumas vezes e depois deu um sorriso relaxado e satisfeito ao dizer: "Foi um dos motivos. Tente descobrir os outros." 

"Eu não sou um investigador." Thorfill respondeu frivolamente e franziu os seus lábios. 

Ele realmente não suportava Ártemis e parecia ter repulsa. 

Ártemis pareceu não gostar daquela resposta frívola de Thorfill e caminhou até ele. Thorfill permaneceu em seu lugar, sem se abalar e não fez nenhum movimento. Seus olhos encararam Ártemis friamente e Ártemis fez o mesmo. Ambos pareciam não suportar a presença um do outro. 

Enquanto os dois conversavam, Thorfill notou que havia uma presença atrás da porta do salão festivo. Porém, ele ignorou isso e retomou a sua atenção para Ártemis. 

"Os deputados eram mais rígidos antigamente." Ártemis estalou a sua língua, produzindo um 'tsk' e disse: "Se fosse antigamente, você nem ao menos teria conseguido colocar os seus pés aqui. Se você fosse acusado de assassinato teria morrido exatamente aqui, neste salão. Sua cabeça teria rolado igual uma bola e isso não aconteceu. Como isso é frustrante!" 

"Você o matou apenas para me acusar?" A voz de Thorfill ficou mortalmente seca. 

De repente, um grito cortou o palácio silencioso: 
"O ASSASSINO APARECEU! ELE ESTÁ NO SALÃO FESTIVO!" 

Ártemis franziu os lábios com isso e deu de ombros, "Há tantos fofoqueiros neste palácio." 

A mão de Thorfill agarrou a machadinha em sua cintura por conta da raiva que lhe tomara. A sua boca se contorceu com raiva e um músculo na sua mandíbula contraiu-se. Ele claramente estava perdendo a compostura que tanto se esforçou para ter. Mais uma vez a sua besta viking seria libertada, extrapolando os limites humanos e fazendo um banho de sangue com os seus inimigos. 

"Pare!" Alguém gritou de repente. 

Thorfill virou-se encontrando Apolo. Parecia que ele havia corrido, por estar ofegante. Suas bochechas estavam vermelhas e a sua toga estava escorrendo por um de seus ombros, revelando uma clavícula bem delineada e bonita cor creme. Thorfill olhou de soslaio, engoliu em seco e desviou o olhar rapidamente. Apolo se recompôs em um piscar de olhos, percebendo que, por ter acabado de acordar, não havia se arrumado. Não havia tempo para isso também e ele fintou profundamente Ártemis. 

"O que você faz aqui?" Apolo perguntou franzindo o cenho. 

Ártemis se aproximou dele, porém depois deu alguns passos para trás e coçou o seu pescoço encarando o nada e respondendo: "Uma visita. Vim ver o Apolito." 

"Ouvi alguém gritando." Apolo disse. Os cantos dos olhos estavam franzidos, como se estivesse confuso. "Cadê o assassino? E por que vocês dois estavam brigando?" 

Depois, Apolo virou-se para Thorfill e disse com raiva: "Você entende o tamanho do problema que você… que eu iria me meter por sua culpa? Matar esse cachorro faria a Rainha Guilhermina quebrar a nossa aliança. Eu iria perder uma grande aliada. Se eu pudesse, eu mesmo teria matado. Por que você acha que ele está vivo até hoje?"  

"Apolo…" Thorfill tentou dizer, mas Ártemis o interrompeu. 

"Que reconfortante saber que você ainda não me matou apenas por causa da rainha." Ártemis suspirou e colocou a mão sobre o seu peito, "Devo agradecer a misericórdia do meu grande amado. Ele me ama tanto." 

O semblante de Apolo se contorceu com nojo. Ele contraiu a sua mandíbula ao franzir os lábios com amargura, dizendo: "Repita essas palavras nojentas novamente e eu irei te espancar até a morte." 

"Mas o que você acabou de dizer sobre a Rainha Guilhermina?" Ártemis deu alguns pequenos pulos contagiantes, "Você não pode me matar, caso contrário, você não apenas terá problema com a Roma querendo tomar o seu país." 

Apolo não se abalou com isso, "Seria uma pena ter que massacrar tantos soldados fiéis que são usados pelos seus líderes. Não acha?" 

Ártemis deu um sorriso sem graça, "Acho." 

"Ótimo." Apolo cruzou os braços, "Volte para a Ilha de Reiwa e não me apareça aqui por duzentos anos." 

"Uma pessoa só vive até os quarenta anos!" Ártemis disse indignado. 

Enquanto eles conversavam, Thorfill ficou surpreso como Ártemis poderia ser tão cínico. O peito dele se enchia cada vez com mais fúria e ele logo explodiria. O fato de não poder matar Ártemis o irritou. Ele deveria morrer. Essa deveria ser a sua única punição. 

"Eu não posso ir ainda." Ártemis andou lentamente em círculos com a mão apoiada em seu queixo. 

A aura de Apolo pareceu ficar sóbria com isso, "Seu encosto, o que você quer?" 

"Eu prometi matá-lo." Ártemis deu um sorriso largo ao apontar para Thorfill. 

Apolo se colocou na frente de Thorfill. Ele franziu as suas sobrancelhas ao saber que Ártemis realmente tentaria matar Thorfill. Ele simplesmente não duvidava de nada que Ártemis dissesse. Com Apolo na frente de Thorfill, Ártemis não atacou e apenas olhou friamente para os dois. 

Thorfill aproveitou que Apolo estava por perto e se aproximou. Apolo estava de costas para ele e era mais baixo. Thorfill ficou rente às costas dele ao se inclinar um pouco para baixo e disse sem cerimônia: "Ele é o assassino de Ravi." 

A testa de Apolo franziu-se ao erguer suas sobrancelhas. "Ele é o quê…?" 

Ele ficou confuso por um tempo, mas depois compreendeu. Com o choque, Apolo deu alguns passos vacilantes para trás e quase caiu. Thorfill o segurou enquanto os cílios de Apolo tremiam. Ele estava lutando contra as lágrimas, mas se negou a deixar uma mísera gotícula escorrer, acreditando que isso faria dele uma pessoa fraca. 

Thorfill sentiu a sua cintura se agarrada e desviou o seu olhar. Uma das mãos de Apolo percorreram o seu cinto com agressividade e a machadinha que ficava amarrada ali foi agarrado por ele. 

Thorfill se afastou rapidamente após sentir um choque percorrer a sua espinha e Apolo, como um raio, se lançou na direção de Ártemis!  

Ártemis estava tranquilamente ao lado observando as suas unhas sujas; um europeu não era tão higiênico e as suas unhas estavam com resíduos da carne de um frango passado ainda; já que ele comia com as mãos. Falando em mãos, ele sentiu uma dor excruciante na sua e viu um filete de sangue adornar o seu pulso. Como uma folha de outono se desprendendo de um galho, a sua mão caiu e rolou pelo chão. 

"Você o matou?!" Apolo gritou com os seus olhos demonstrando impiedade e ódio puro. 

"Apolito?" Ártemis franziu as suas sobrancelhas por conta da dor que o tomou. Os seus olhos arregalaram-se e ele engoliu em seco, dizendo: "Foi sem querer." 

Era claramente uma encenação. 

Apolo pareceu ter sido tomado por um fúria. 

Ele segurou a machadinha com a sua mão dominante e partiu para cima de Ártemis sem dizer uma única palavra. A luta deveria acontecer em silêncio, para preservar a concentração. Sua mão lançou a machadinha cada vez com mais rapidez e velocidade surpreendente. Ártemis, por ser um general incrivelmente forte e experiente, conseguia se desviar dos ataques. Porém, não por muito tempo. Os olhos de Thorfill observaram Apolo lutar e ele franziu o cenho. 

Ele havia aprendido a lutar corpo a corpo! 

Combate próximo! 

O peito de Thorfill se encheu de algo incompreensível. 

Os movimentos de Apolo eram rápidos. Suas investidas acertavam a pele de Ártemis, mas sempre fazia cortes de raspões. 

"A Rainha Guilhermina, não se esqueça." Ártemis disse enquanto se desviava de um golpe. 

Apolo não respondeu. Ele abaixou-se e estendeu as suas pernas. Um de seus pés raspou o chão e ele deu uma rasteira em Ártemis; que caiu batendo a sua cabeça no chão. Apolo subiu em cima dele e levantou a machadinha com as duas mãos. A lâmina afiada cortou o ar e foi na direção do rosto de Ártemis. 

Os seus olhos estreitaram-se ao sentir os braços de Ártemis se levantarem. Apolo compreendia que iria levar um soco no abdômen, para intensificar a sua dor nos rins e ele virou-se e rolou pelo chão. Ele levantou-se com precisão no mesmo momento que Ártemis. Os dois se encararam e a boca de Ártemis transformou-se numa linha dura; o habitual sorriso havia sumido. 

"Você está disposto a perder uma aliança com a minha rainha apenas para vingar a morte de um inútil eunuco?" Ártemis cuspiu sangue no chão. 

"Eu estou." Apolo afirmou segurando a machadinha com força em sua mão. Uma gotícula de sangue escorreu pela lâmina prateada e pingou do chão. 

Thorfill compreendia que essa não era a sua luta e ficou observando ao lado. Não ouse interferir na vingança de um homem, para que a satisfação não seja atraída para você. 

Os olhos de Apolo brilharam ao ver que Ártemis finalmente iria levar a luta a sério. 

"Eu irei te matar então." Ártemis deu de ombros. Ele levantou o seu braço e esclareceu: "Você arrancou a minha mão, em troca, eu irei arrancar o seu pescoço." 

Apolo levantou uma de suas sobrancelhas e deu-lhe uma olhadela, dizendo: "Você fala muito e faz pouco, Leonhardt Sephalla, o maníaco de Gales." 

O olhar de Ártemis pareceu ficar sombrio. Ele claramente não gostou de ter sido chamado assim e os lábios de Apolo se apertaram fazendo uma linha reta. Os seus olhos iluminaram-se ao ver que havia conseguido fazer Ártemis se enfurecer. 

Ártemis gritou furiosamente: "Torquiu, agora!" 

Apolo rapidamente recuou quando pressentiu algo. 

Thorfill franziu os lábios ao escutar o nome de Torquiu.  

Os dois olharam para cima ao escutar um 'click'. 

Mas era muito tarde. 

Dezenas de lâminas afiadas, presas de ponta cabeça no teto do palácio, caíram na direção dos dois em uma velocidade surpreendente. Thorfill estava próximo de Apolo. Ele o puxou para um canto em que as lâminas não pudessem alcançar. Ele envolveu Apolo em seus braços e rolou para o chão com ele. Usando os seus braços para cobrir a cabeça de Apolo na queda e no rolamento. Os dois conseguiram escapar das lâminas certeiras e se levantaram ofegantes. 

"Apolito, por que eu estou fazendo isso?" Ártemis não se abalou após o seu plano ter dado errado, "O que está me levando a tentar te matar depois de tantos anos de lealdade?"  

"Não sei." Apolo respondeu friamente. 

Típico. 

Apolo ficar falando levianamente sem se importar com nada. 

"Você é muito frio." Ártemis disse fazendo beicinho, demonstrando estar emburrado.  

"Eu tenho cara de sol para ser quente?" Os olhos de Apolo cerraram-se como os de um felino ranzinza. 

Ele realmente parecia ser um gato mal humorado… 

Isso na visão de Thorfill. 

A imagem de Apolo acaba de ser destruída! 

Por sorte, ele nunca iria descobrir os pensamentos de Thorfill…

"Você está sempre traindo, então, o que achou desta traição?" Ártemis deu um sorriso doce e amável. 

"Nunca considerei você como um aliado. Uma traição pela parte de Thorfill teria doído mais." Apolo deu de ombros. Sua expressão fechada, porém os seus olhos tiveram um breve lampejo de prazer ao irritar Ártemis com a sua resposta. 

Thorfill ficou em silêncio, ".........................." 

Por que diabos eu iria traí-lo? 

A expressão de Ártemis endureceu. Ele deu alguns passos para trás e gritou: "Seu covarde, saia! Trás uma espada para mim." 

"O vira-lata caramelo está aqui?" Apolo perguntou cinicamente, demonstrando repulsa em seu semblante frio. 

Como Apolo tinha uma mania de dar apelidos para todos, Ártemis não compreendeu por quem ele estava perguntando. Mas um homem saiu de trás de um conjunto de cortinas beges de linho e revelou-se ser o desaparecido Torquiu. 

O vira-lata caramelo. 

"Sua esposa, não, sua espada!" Torquiu disse tremendo ao se aproximar. Ele jogou uma espada para Ártemis. 

Infelizmente, Apolo não havia cortado a mão dominante de Ártemis e ele conseguia segurar a espada com precisão surpreendente. Ele disse: "Eu quero Atenas." 

"A mando da Rainha Guilhermina?" Apolo não se abalou com as palavras de Ártemis. 

"Não." Ártemis respondeu erguendo a sua espada, "É um desejo meu." 

Ele se lançou na direção de Apolo e os dois se enfrentaram. 

No Conselho dos Deuses, Zeus olhou para o responsável dos europeus. Seu semblante estava feio, ele disse para Deus que Leonhardt Sephalla era uma versão menos forte de sua filha Ártemis. Deus perguntou o que ele tinha haver com isso, ele não interferir no livre arbítrio de sua criação! O que as atitudes de Ártemis tinha haver com ele? Zeus não gostou dessa resposta, ele invocou um raio. Pan Ku estava em seu templo pessoal nesse momento, ele rapidamente largou a sua cabra de estimação, que na verdade não era dele, e saiu correndo para segurar o raio de Zeus. Os deuses que estavam no conselho desistiram de assistir a luta de Apolo e focaram em Zeus batendo em Pan Ku; por ter interferido na luta. 

No salão festivo. 

Thorfill correu até Torquiu e o agarrou pelo pescoço para que ele não pudesse fugir. Torquiu começou a se debater como uma minhoca no sol e gritou: "Eu não sei de nada, eu realmente não sei de nada! Wo…" 

"Eu ainda não perguntei nada." Thorfill franziu o cenho, "O que você está fazendo aqui?" 

"Aquele troglodita me obrigou a vim!" Torquiu gritou, "Eu estava de boa vivendo na Ilha de Reiwa, governando os poucos vikings que sobreviveram ao ataque dos Paladinos de Bronze quando Ártemis disse: por que a gente não se diverte um pouco? Vamos atacar o rei de Atenas e pipipipopopo. Estou cansado, odeio este homem! Você vai matá-lo, né?" 

"Eu não." Thorfill disse indignado.

Torquiu inverteu as suas posições e começou a agarrar o pescoço de Thorfill dando pequenas chacoalhadas, "Você tem que matá-lo! Mate-o. Odin presa por isso, Thor pediu por isso, Freya aceita isso, Loki aguarda ansiosamente por isso! Eu não aguento mais ele. Ele é um monstro! Ele me obrigou a apunhalar aquele porco humano. Pobre homem fofoqueiro." 

Thorfill agarrou o pescoço de Torquiu novamente, desta vez com mais força. Ele gritou: "Está falando sobre quem?!" 

"O sem pau!" Torquiu gritou e engasgou logo em seguida. 

"O quê?" Thorfill perguntou confuso, "Pau?" 

"Eunuco!" Torquiu disse perdendo o fôlego por conta do aperto em volta de seu pescoço, "Eunucos são castrados para poder proteger o harém do rei." 

Thorfill franziu as suas sobrancelhas e permaneceu em silêncio, "........................." 

"Eu e Ártemis matamos o eunuco." Torquiu deu pequenos passos para trás, conseguindo se livrar das mãos de Thorfill. "Ártemis parecia não gostar do porco barrigudo e resolveu matá-lo. Estivemos observando vocês dois por um bom tempo por dentro das paredes com passagens secretas. O eunuco foi morto assim que saiu deste salão."  

"Você vai pagar por isso." Thorfill disse friamente. 

Torquiu ficou indignado, "Eu fui ameaçado a fazer isso! Eu não queria. Eu realmente não queria!" 

"Isso não muda as suas ações." Thorfill o fintou. Era como se houvesse gelo em seus olhos escuros. 

Torquiu ainda continuou indignado. Ele não havia feito nada por vontade própria e havia sido coagido. 

A culpa deveria ser toda de Ártemis! 

Um gemido de dor penetrou profundamente nos ouvidos de Thorfill e ele olhou rapidamente para o lado. O braço de Ártemis estava esticado, a lâmina da espada havia atravessado o abdômen de Apolo e ele cuspiu sangue. Cambaleando para o lado, ele se apoiou em uma escultura e a contornou. 

A escultura era feita de gesso e representava a deusa da justiça, Têmis. Era uma arte realista, havia uma fita sobre os seus olhos e ela segurava uma balança e uma espada nas mãos. Apolo agarrou a espada dela e partiu para cima de Ártemis, mesmo estando ferido. 

Era um detalhe de Apolo não conversar em meio a uma batalha. Ele lutava em silêncio, libertando toda a sua fúria em seu alvo. Ártemis era ao contrário e ficava balbuciando lorotas. 

"Apolito, você não é páreo para mim!" Ártemis gargalhou, "Você é melhor que eu em tudo, porém, a única coisa que eu sou capaz de ganhar contra você é em um combate." 

"Que ótimo." Apolo simplesmente concordou. 

Aquilo irritou profundamente Ártemis, "Eu irei te matar lentamente." 

Aquelas palavras saíram entredentes. Apolo parou os seus movimentos e disse: "O maníaco está falando demais e fazendo pouco novamente."

Ártemis deu um grito logo em seguida, como se tivesse ficado furioso. Até mesmo Thorfill havia se assustado com aquilo e encarou Ártemis com os olhos arregalados. Torquiu correu em círculos como uma barata tonta e ficou murmurando várias vezes: "Ele irá nos matar, ele irá nos matar, ele irá realmente nos matar!" 

"Cala a boca!" Thorfill bateu levemente no pescoço dele e Torquiu caiu desmaiado no chão. 

Não era para ter sido um tapa tão eficiente… 

Ele voltou a prestar atenção na luta e não participou. Thorfill achou que seria covardia dois contra um e permaneceu em silêncio, parado; estático assistindo a luta. Os olhos de Thorfill captaram a toga branca de Apolo se tornando vermelha por conta do sangue que escorria de seus cortes. 

Thorfill não tinha mais a sua machadinha e aproximou-se sem nenhuma arma. 

"Isso é covardia!" Ártemis gritou ao ver Thorfill por perto. 

Apolo notou a presença de Thorfill e virou-se para ele. Seus olhos azuis escuros e nebulosos estavam cheios de fúria; eles até mesmo brilhavam. O lábio inferior dele tremeu ao dizer friamente: "Fique fora disso." 

"Mas…" Thorfill percebeu que Apolo havia aprendido a lutar corpo a corpo, mas os seus ataques não eram perfeitos. 

Ele iria perder. 

Ártemis tinha mais experiência. 

Porém, o orgulho de Apolo era muito grande e ele gritou raivosamente: "Eu disse para você ficar longe disso! Saía agora!" 

A decepção transformou o rosto de Thorfill e ele se afastou. 

Passos ecoaram pelos corredores vazios e várias pessoas entraram no salão festivo. Os deputados, os seus servos e os paladinos liderados pelo Marechal Hermes. Os atenienses observaram boquiabertos Apolo e Ártemis lutando como animais selvagens em busca de sobrevivência. 

"Esses dois não são amigos?" Um deputado perguntou. 

"O que está acontecendo?" Um paladino sussurrou para o Marechal Hermes. 

"Não faço ideia." O Marechal Hermes deu de ombros. 

Uma luta, no final das contas, era uma luta. 

Todos começaram a assistir em silêncio. 

"Apolito, por que você está tão bravo?!" Ártemis gritou enquanto brandia a sua espada na direção de Apolo, "O gordo não sofreu muito, acredite em mim. Ele era um fofoqueiro, sempre expondo a sua vida para qualquer um, se achando no direito de fazer isso só porque você tinha um pouco de consideração por ele! Eu lhe fiz um pequeno favor." 

"Deveria te agradecer por isso?" Apolo não aguentou as palavras grotescas de Ártemis e perguntou friamente. Ele não esperou pela resposta e não queria saber a resposta também. Apolo apenas atacou. A lâmina da espada em sua mão era firme e afiada. Os seus ataques sempre atacavam a ponta da espada de Ártemis, tentando fazê-la voar pelos ares. 

Ártemis percebeu isso e o aperto no cabo da espada se tornou mais forte. Ele disse: "Você não sabe lutar com nada além de um arco. Se fosse a sua arma habitual, você até teria uma chance contra mim." 

Ártemis era sorrateiro e imprevisível como um leopardo. Não se sabia ao certo o motivo de suas ações contra Apolo, poderia também não ter um motivo plausível para atacá-lo também. Mas isso parecia diverti-lo e isso por si só, já era uma conquista para ele. Ver aquele rosto com um semblante triste foi satisfatório. 

Porque assistir uma pessoa desabar era incrivelmente bom e prazeroso para ele. 

Talvez, Leonhardt Sephalla tenha sido como Apolo um dia. 

Uma pessoa ignorante, de semblante frio que não temia nada, absolutamente nada. Era morto por dentro e não sentia muitas emoções. Vivendo apenas para o combate e cumprindo ordens. Sendo um fantoche e uma peça de xadrez manipulada pelos 'maiores'. Fazendo ações sem questionar as suas atitudes. Sendo um soldado leal; não porque queria, mas porque não tinha desejos próprio. Então, concluía os desejos de outras pessoas para se sentir vivo. 

Não… não se sentir vivo, mas para continuar existindo. 

Talvez, um Ártemis tenha aparecido em sua vida um dia. 

Ele poderia continuar fazendo várias ações sem se questionar, mas poderia existir uma pessoa ao seu lado que dizia: isso é errado, não machuque pessoas inocentes, fique bem, tome cuidado no caminho. 

Poderia ter existido um Ravi em sua vida, todavia, um dia… 

Leonhardt Sephalla, então, pela primeira, teve um desejo. 

Vingança. 

Vingança contra quem matou o seu 'Ravi'.

E depois mais desejos foram nascendo. 

Ódio, raiva, amargura. 

Amor, felicidade, alegria. 

Era tudo muito estranho para ele. 

Não havia nada dentro de si, nem um mísero sentimento ou desejo antes. Qual crime ele havia cometido para não sentir nada? 

As pessoas ao seu redor sempre falavam sobre sentir algo. 

Eu estou feliz. 

Me senti mal. 

Eu estou criando sentimentos românticos por ele. 

Amo os meus pais.

Tenho vontade de ser alguém na vida. 

Por que ele não era como as pessoas comuns? 

Ele não sentia nada. 

Até a morte de seu 'Ravi'.

Leonhardt Sephalla não saberia explicar sua condição mental, mas ele tinha a ideia de que era um anjo que nasceu para ajudar outras pessoas iguais a ele. 

Não outras pessoas… mas Apolo. 

O seu irmão gêmeo. 






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