Capítulo 14: O salão festivo e os deputados da noite
Thorfill vestiu-se rapidamente, sentindo o seu corpo mais leve ao se levantar. Ele acabou percebendo que havia um cantil de vinho em seu bolso lateral. Ele pegou por estar sedento de sede e deu algumas goladas no vinho de framboesa amargo.
Apenas o cheiro do álcool fez Apolo; ao lado, cambalear!
"Você está bebendo logo depois de sua carne ter sido toda perfurada?" Apolo encarou Thorfill friamente.
"Não é bom para ajudar a cicatrizar?" Thorfill perguntou.
Era apenas uma desculpa, ele queria apenas beber e bebeu.
"Você é um caso engraçado." Apolo suspirou levianamente, "Às vezes inteligente, e às vezes nem tanto."
Thorfill ignorou aquilo e ofereceu por educação, "Você quer?"
As sobrancelhas de Apolo se arquearam, demonstrando que aquela pergunta havia sido um absurdo.
Thorfill lembrou-se no momento seguinte que nem todo mundo era um viking; que gostava de compartilhar garrafas com os amigos ou companheiros sem se importarem com a troca de itens pessoais.
Porém, Apolo suspirou e apenas disse: "Eu não bebo álcool."
"Faz sentido." Thorfill deu de ombros, "Você parece não ter resistência para isso."
Os lábios de Thorfill se ergueram em um sorriso de escárnio.
Obviamente, ele estava tentando irritar um pouco Apolo, já que o mesmo vivia tentando irritá-lo.
Todavia, Apolo apenas confirmou, dizendo: "Eu realmente não tenho resistência ao álcool."
Thorfill sentiu a sua vontade de brincar com Apolo se esvaindo e ele ficou em silêncio, "..................."
"Além do mais, meus rins estão colapsando." Apolo deu de ombros, "Beba mais água e menos álcool, se não ficará igual a mim. E se você continuar a beber tanto e tiver problemas no fígado nem venha me pedir ajuda."
Thorfill engoliu em seco e guardou o cantil de vinho novamente.
De repente, houve uma batida suave na porta da câmara fria.
Era um servente educado que avisou à Apolo que diversos deputados do parlamento heleno estavam no salão festivo, esperando pelo rei de Atenas. O semblante de Apolo ficou sobrenaturalmente frio e ele se retirou deixando Thorfill para trás.
Ele deu um aviso breve para Thorfill: vá para o salão festivo mais tarde.
Thorfill concordou rapidamente e, já conhecendo um pouco o palácio, caminhou até a câmara que Tilf estava descansando em passos apressados. No corredor bem ventilado havia muitas serventes que encararam a passeata de Thorfill com interesse; havia um estrangeiro incrivelmente bonito no palácio, obviamente, elas estavam bem curiosas e não pouparam olhares furtivos para ele.
Os seus passos estavam firmes após a remoção de todas aquelas agulhas de seus corpo, ele se sentia revigorado.
Ao chegar na câmara de Tilf, ela estava deitada e ignorou a presença de Thorfill. Feup estava tagarelando com ela, mesmo que ela o ignorasse também. Bellamy estava falando ao mesmo tempo que Feup, dizendo que o General Guts havia aceitado ele como discípulo. De repente, o rosto de Tilf ficou vermelho e ela gritou:
"Calem a boca!" Ela rugiu furiosamente, "Vocês dois são muito sem noção! Eu estou acamada, querendo descansar e vocês insistem em me contar ladainhas? Saem daqui!"
Bellamy quase chorou, "Eu só estou expressando a minha felicidade!"
"Você me perguntou o porquê de Aske e eu não estarmos mais juntos. Eu apenas estou te respondendo!" Feup disse indignado com a bipolaridade de Tilf.
Tilf revirou os olhos e acabou notando a presença de Thorfill. Ela pediu a ele: "Tira eles daqui."
Feup levantou-se rapidamente da cama de Tilf e disse: "Não há necessidade. Eu estou indo embora."
Ele fez uma saída triunfal, até mesmo fingindo fungadas de choro. Thorfill rapidamente foi atrás dele para avisar que ficaria por um tempo no palácio, "Ficarei aqui até o nascimento de Thor. Volte para o Navio Primordial e cuide de tudo enquanto isso."
"Eu?" O cenho de Frup franziu-se, "Tem certeza?"
Não… Thorfill pensou engolindo em seco.
"Faça o seu melhor." Thorfill franziu as sobrancelhas com dúvida em sua decisão. No instante seguinte, ele limpou a sua garganta como se algo o estivesse incomodando e ele perguntou com receio: "Você e o Aske… o que aconteceu?"
Ele estava querendo perguntar isso há muito tempo!
Feup cruzou os braços e bufou, como se lembrasse de um assunto desconfortável. Ele disse frivolamente: "Ele não quer navegar mais, porém eu quero. Nossos caminhos se separaram e cada um seguiu os seus desejos. Foi apenas isso."
Thorfill não compreendeu muito bem, mas não insistiu no assunto. Feup partiu de volta para o Navio Primordial e Thorfill virou-se para entrar na câmara de descanso de Tilf novamente, porém havia alguém atrás dele. Inesperadamente, era Ravi. Ele sorriu levemente e o arquer de seus lábios fizeram as suas bochechas rechonchudas se erguerem.
"O jantar está pronto." Ravi disse suavemente, "Você não pode ir para o salão com essas roupas de caçador norueguês."
"O que há de errado com elas?" Thorfill perguntou rindo.
"Os deputados não gostam de estrangeiros, ainda mais aqueles que usam suas próprias vestimentas culturais. Tente colocar uma toga grega e eles vão abaixar um pouco a guarda com você." Ravi suspirou.
Thorfill se imaginou com uma toga e fez uma careta, "Realmente não posso ficar com as minhas vestimen…"
Ravi o interrompeu, "Não pode."
"Compreendo." Thor disse compreendendo.
"Venha comigo." Ravi estendeu a sua mão para Thorfill e depois bateu em sua própria testa, "Ah, eu e minha mania de achar que todos são crianças! Apolo gostava de andar de mãos dadas comigo quando tinha cinco anos… acabei pegando o hábito de estender a mão."
Os lábios de Thorfill se ergueram em um sorriso suave, "Hum, o General Guts se dá bem com você então?"
"Oh, eu o criei." Ravi sorriu também, "Eu sou um eunuco desde criança e servi o pai de Apolo por anos. Após a morte da mãe dele, eu me ofereci para cuidar do pequenino. Nós nos damos bem, mas você deve conhecer a personalidade dele… frio por fora, ignorante, estressado, sarcástico. Mas na verdade, ele é bastante gentil e amável quando quer. Você mesmo deve compreender."
Thorfill compreendia um pouco e perguntou: "Como você sabe?"
"Oras, você é o garoto que se enfiou uma vez no barco dele." Ravi bufou colocando as mãos em sua cintura, "Você teve uma breve convivência com Apolo e ele até mesmo esteve disposto a te dar bolinhos de mel! Isso é um milagre!"
"Ele te contou essa história?" Os olhos de Thorfill se arregalaram por conta da surpresa.
"Claro." Ravi franziu os lábios como se estranhasse a pergunta de Thorfill, "Ele sempre me conta tudo desde criança. Eu sou bastante desanimado e triste, mas ele sempre me conta suas viagens pelo mundo e isso me anima um pouco… por que você está me olhando com esses olhos arregalados? Você não imaginava Apolo fazendo esse tipo de coisa?! Fofocando?"
Thorfill estava realmente surpreso.
Apolo tentando animar alguém?
Era um pouco estranho imaginar isso.
Ravi ficou indignado com a reação de Thorfill e disse: "Meu menino tem aquele temperamento sarcástico e deplorável apenas como uma armadura para se proteger. Não é como se ele fosse daquele jeito inescrupuloso sempre. Apolito é realmente trevoso e gótico, mas por dentro está sempre se importando com algo ou alguém! Meu menino não é tão mal humorado e péssimo assim…"
Thorfill o interrompeu para perguntar: "Você está tentando limpar a imagem dele ou difamá-lo ainda mais?"
Ravi ficou em silêncio, pensando. "...................."
Onde estava a difamação?
Ravi resolveu ignorar isso e disse perdendo a paciência: "Vamos logo trocar de roupa!"
"Roupas?" Alguém perguntou.
"Você também precisa trocar de roupa!" Ravi gritou ao ver Bellamy aparecer vestido com roupas de caça.
Os três foram para um cômodo bem ventilado. Havia muitas togas ali e Thorfill vestiu-se com uma peça fina e branca, enquanto Bellamy vestiu-se com uma toga azul clara. Os dois vestiam vestimentas chiques e gregas, porém, isso não escondia que eles eram estrangeiros. Ravi quase surtou com isso!
Bellamy ignorou completamente Ravi e perguntou: "Eu posso ir comer agora?"
Ravi suspirou pesadamente e balançou a cabeça afirmando.
Eles foram para o salão festivo.
Os deputados helenos estavam sentados no chão, enquanto os serventes os serviam com vinho e carne defumada. A fartura de comida estava em vários tapetes de seda próximo aos homens presentes ali.
Havia muitas mulheres vestindo togas transparentes e elas dançavam com movimentos suaves, acompanhando o ritmo do som que vinha de uma harpa tocada por um belo homem heleno. Apolo não estava em lugar nenhum e o cenho de Thorfill franziu-se ao notar isso.
"Sente-se aqui." Ravi abanou a sua mão para chamar a atenção de Thorfill.
Thorfill e Bellamy sentaram-se juntos em um tapete que estava ao lado de uma escadaria. Bellamy ergueu uma taça que estava ao lado rapidamente e um servente avistou isso. O servente caminhou lentamente até ele e despejou vinho fresco no copo de Bellamy; que agradeceu e sorriu. Antes que o copo pudesse chegar aos lábios dele, alguém agarrou o copo!
"Apenas quando você se tornar um viking adulto poderá beber." Thorfill disse segurando o copo, "Quando você fizer dez anos, será a sua nomeação. Então espere, domador de grilos."
Bellamy bufou e perguntou com raiva: "Por que você está me chamando assim também?!"
Thorfill queria responder, porém, ele percebeu que alguém estava descendo a escadaria ao lado. Seus olhos desviaram-se distraidamente para o topo da escadaria e as suas pupilas dilataram-se ao encontrar os olhos frios e azuis de Apolo. Ele desceu cada degrau fintando Thorfill e silenciosamente sentou-se ao lado dele. Por conta disso, os deputados do parlamento não o notaram.
"Você chegou tarde." Apolo disse fitando os deputados se embebedando.
"Ravi me fez vestir uma toga antes de vir." Thorfill desviou o seu olhar de Apolo procurando por Ravi, porém o eunuco havia desaparecido do salão festivo e Thorfill estranhou isso.
"Isso fica feio em você. Prefiro as roupas de caça mesmo." Os lábios de Apolo se ergueram um pouco, como se ele estivesse feliz em irritar Thorfill com aquelas palavras.
Thorfill agradeceu falsamente, "Obrigado."
"Que clima horrível que vocês dois exalam." Bellamy disse distraidamente, enquanto enchia a sua boca com comidas piscantes. "Comida apimentada é essencial para o meu apetite!"
Apolo olhou sarcasticamente para Bellamy e disse: "Continue comendo comida apimentada e tenha hemorroida aos trinta anos."
"Você está brincando comigo." Bellamy sorriu encarando Apolo, "Isso é um mito. Comida apimentada não causa hemorroida."
"O domador de grilinhos é inteligente." Apolo disse frivolamente, fingindo surpresa.
"Por que grilinhos?! Eu criei apenas um!" Bellamy disse com fúria.
A fúria de Bellamy atraiu a atenção de várias pessoas e os deputados do parlamento acabaram encontrando o rei de Atenas calmamente sentado ao lado de um estrangeiro grande e uma criança furiosa. Apolo ao notar os olhares surpresos continuou a fingir serenidade e falta de percepção; ele era completamente e absurdamente cínico!
"Vossa majestade!" Um deputado deitado se recompôs, "Finalmente você chegou."
"Hum." Apolo exclamou brevemente.
"Vossa alteza, precisamos conversar urgentemente sobre os jogos olímpicos." Um deputado sentou-se em seu tapete e os outros homens ao seu lado fizeram o mesmo.
Os olhos dos presentes no salão festivo estreitaram-se ao perceber Thorfill: a criação de outro deus!
Os murmúrios rapidamente tomaram conta do salão festivo.
"O que um estrangeiro faz no palácio?!" Um deputado meio alcoolizado perguntou, soluçando logo em seguida. "Up!"
"E ainda mais ao lado de nosso rei." Outro apontou o dedo indicador na direção de Thorfill.
"Que absurdo!" Alguém cuspiu friamente e levantou-se, "Padinos!"
"Quanta insolência!" Um deputado ficou indignado.
O peito de Thorfill se apertou rapidamente.
Isso poderia trazer problemas para Apolo…
"Guardas! Levem esses estrangeiros!" Outro deputado se levantou e apontou para Thorfill e Bellamy.
"Que isso gente?" Bellamy exclamou assim que conseguiu engolir um grande pedaço de carne que havia ficado entalado em sua garganta.
"Que língua esse garoto está falando?" Um deputado perguntou.
"Eu sou nórtico, mas estou compreendendo tudo o que vocês estão falando." Bellamy disse e bufou, "Que confusão vocês estão causando. Então vendo um humano ou um demônio?"
"Um nórtico? Ele deve pertencer àqueles países frios habitados por selvagens!" Um deputado disse atraindo a braveza dos homens ao seu lado, "A criação repugnante de Odin!"
"Deve ser um saqueador!" Alguém gritou com frieza.
"Um viking demoníaco!"
"Eles dois devem estar fazendo nossa alteza de refém!"
"Denuncie! Denuncie eles aos oficiais agora!"
"Mate-os! Eles vieram roubar os nossos tesouros."
Os deputados do parlamento partiram para cima de Thorfill e Bellamy, os dois não fizeram nenhum movimento e apenas perceberam que Apolo estava se levantando.
"Sentem-se." Apolo disse friamente olhando para cada deputado ao dizer: "Eles são meus convidados, então, os tratem com respeito."
"Convidados?!" Os deputados ficaram surpresos e se sentaram novamente.
"Sim, e eles ficarão por um tempo em meu palácio." Apolo disse claramente, enfatizando as suas palavras finais. "Eles são nórdicos e são vikings, a criação de Odin."
Apolo disse e os deputados se expressaram com terror, "Quem tiver problemas com os meus convidados, eu estarei dispostos a desembainhar uma espada e lutar com vocês por eles, pois eles não fizeram nada de errado."
Um deputado zombou, "Um viking é um convidado agora? Desde quando eles sabem se comportar?! Eles são agressivos e selvagens, sempre saqueando e estuprando. Até mesmo os deuses deles são agressivos e eles precisam morrer lutando para entrar em um paraíso."
Outro deputado zombou também, "Esse povo são como ratos! Invadem a sua casa e tomam posse."
"Grande ratazanas!" Um deputado gritou.
"Malditos!" Outro deputado gritou furiosamente com repulsa, "Seus deuses são uns lixos!"
Thorfill os encarou friamente e a sua fúria despertou. Ele claramente iria matar aquelas pessoas e a reputação de um viking ser 'selvagem e agressivo' iria se tornar completamente verdadeira…
Apolo se colocou na frente de Thorfill e cruzou os braços ao ficar de frente para vários deputados raivosos, "Vocês baseiam que todos os vikings são assim? Agressivos, estupradores, ratos e selvagens? Esses fatores não são sinônimos de um viking, caso contrário, Thorfill e sua família não seriam vikings. Eles não fazem isso. Vocês os chamam de malditos e chamam os deuses deles de lixo, mas vocês também acreditam em vários deuses lixo, sendo assim, vocês também são malditos?"
O salão festivo ficou em absoluto silêncio.
Apolo ficou esperando pela resposta dos deputados, porém nada veio e ele suspirou pesadamente sentando-se ao lado de Thorfill novamente. Ele disse friamente: "Estamos aqui para discutir sobre os jogos olímpicos."
Os deputados se sentaram novamente e estenderam os seus cálices de vinho. Os serventes os serviram e voltaram para os seus respectivos lugares. Apolo franziu o cenho vendo isso e lembrou-se que aqueles serventes, na verdade, eram escravos pessoais dos deputados. Qualquer um podia entrar em seu palácio sem o seu conhecimento, mas ele não podia trazer seus próprios convidados estrangeiros?
Onde ele era um rei respeitável?
Apolo ainda estava se perguntando quando percebeu algo sendo estendido para ele.
Thorfill havia ignorado tudo e todos. Ele pegou um jarro pequeno cheio de água e estendeu para Apolo, enquanto dizia: "Você deve estar com sede depois deste discurso."
"Você está falando ironicamente comigo?" Apolo franziu os lábios e pegou o recipiente que continha água fresca.
Thorfill rapidamente explicou-se enquanto brincava também: "Não estou sendo irônico, foi uma defesa e tanto. Eu senti que você fosse meu defensor."
Apolo pareceu se irritar com aquilo e pousou o jarro fortemente no chão, "Eu jamais te defenderia. Eu estava apenas cansado da burrice e ignorância do meu povo!"
Thorfill ignorou isso e instigou Apolo a beber água, "Não se esqueça que os seus rins estão colapsando. O monstro ainda está liberando cristais de sal em seu estômago."
Apolo ficou ainda mais furioso!
"A gente não ia falar sobre os jogos olímpicos?" Um deputado sussurrou para o outro ao ver Apolo se irritar com o estrangeiro.
"Conversar com aquele matuto é muito mais importante." O outro deputado deu de ombros.
Apolo percebeu os cochichos e retomou a sua atenção para os deputados. Ele bebeu rapidamente a água e disse: "Os jogos olímpicos se iniciam em sete dias. Eu escolho o Santuário de Olímpia para ser o palco principal da entrega das medalhas de ouro e de prata."
"Vossa majestade, o que acham de nós adicionarmos mais um tipo de medalha?" Um deputado questionou após bebericar o seu vinho.
Apolo franziu as suas sobrancelhas, "Outro tipo de medalha?"
"Medalha de bronze." O deputado disse, "Para aqueles que vencerem em terceiro lugar."
Os deputados começaram a balbuciar suas opiniões.
Thorfill ficou confuso e Apolo percebeu. Apolo deixou os deputados resolverem a questão da medalha e perguntou à Thorfill: "O que foi agora?"
"O que são jogos olímpicos?" Thorfill perguntou sussurrando para não atrapalhar a reunião dos deputados do parlamento.
Apolo aproximou-se e disse em um tom baixo também: "É um festival religioso e atlético. Ocorre de quatro em quatro anos no anfiteatro em honra de Zeus. Nos jogos olímpicos acontecem disputas, as mais conhecidas são: corrida, nado, luta, corrida com armas, corrida de carroças puxadas por mulas. O vencedor ganha honra e méritos e, além disso, ganha uma medalha feita de ouro ou prata e tem direito a uma escultura."
Thorfill imaginou isso e animou-se, porém não demonstrou. Bellamy estava ao lado escutando e interrompeu: "Eu quero participar!"
Apolo rapidamente tapou a boca de Bellamy com as mãos, "Fale baixo."
Thorfill agarrou os ombros de Bellamy e o afastou de Apolo, perguntando: "Nos seus jogos olímpicos estrangeiros não podem participar, não é?"
Ele já previa isso e Apolo olhou em volta, notando que os deputados não haviam escutado a pergunta de Bellamy. Caso contrário, o que poderia acontecer?
Uma guerra com certeza!
"Não podem participar estrangeiros, escravos ou mulheres." Apolo disse e revirou os seus olhos com tédio.
De repente, a porta do salão festivo se abriu abruptamente e um vendaval invadiu.
"O parlamento esqueceu de me convidar para a reunião?" Alguém perguntou.
Uma mulher escancarou na porta com raiva e entrou perguntando. Os olhos de todos se atraíram para ela e os deputados começaram a gaguejar.
"De-Demerí, nós…"
"Demerí!" Um deputado engoliu em seco, "Essa é uma reunião importante. Mulheres não devem participar nos assuntos do estado!"
Demerí era uma mulher excepcionalmente bonita. Ela sorriu com os lábios pintados de vermelho. Sua pele branca como jade destacava-se em suas roupas brancas e finas. Seus cabelos pretos e volumosos na altura dos ombros à mostra. Suas curvas eram admiráveis e suas orelhas eram chamativas por conta de brincos de prata em seu lóbulo.
Uma coisa que Apolo sempre admirou na cultura vikings, era que as mulheres falavam no mesmo tom de voz que os homens. Em outras palavras: não havia diferenças entre eles, mas isso era diferente em sua terra mãe. Demerí estava completamente restrita de participar daquela reunião.
Porém, a mulher sentou-se em um tapete e serviu-se com vinho. Ela encheu o seu copo e bebeu todo o conteúdo em um segundo, como se estivesse com muita sede. Demerí limpou os seus lábios e perguntou para o deputado: "O que você havia tido mesmo?"
Aquilo foi um ato de desrespeito, o deputado levantou-se furioso e gritou: "Sua mãe não lhe deu educação o suficiente?! Como ousa me negligenciar assim?!"
Demerí olhou atentamente para o deputado e o sorriso não desapareceu de seus lábios, "Eu negligencio aquele me de negligenciar por qualquer motivo, seja por eu ser mulher ou por qualquer outra coisa. Eu lutei para entrar no parlamento e o mínimo que eu mereço é ser convocada para as reuniões. Eu nem teria descoberto essa reunião se Apolo não tivesse ido me chamar! Eu tive que sair correndo do meu banho com sais minerais do Himalaia só para estar aqui e eu ainda sou recebida assim? Pan Ku custou arrumar os sais para mim…"
Os deputados escutaram em silêncio e depois cochicharam:
"Ela estava tomando banho? E vossa majestade…" O rosto do deputado ficou um pouco avermelhado.
"Esses dois…" Um deputado cerrou o seu olhar em Apolo.
"Ele entrou dentro do quarto dela?"
De tudo que Demerí havia tido, todos só prestaram atenção na parte do banho.
Até mesmo Thorfill havia prestado atenção nisso e Bellamy estava se rastejando até o tapete de um deputado ao lado, para comer a comida dele.
Qual era a relação deles?
Apolo suspirou pesadamente como se estivesse cansado e interrompeu as fantasias dos deputados, "Demerí, participe do assunto. Como você disse, você lutou para entrar no parlamento e tem o total direito de participar das reuniões. Estamos falando sobre uma terceira medalha."
Na verdade, Apolo não estava falando nada sobre medalhas com os deputados. Ao invés disso, ele estava cochichando com Thorfill!
Demerí franziu os lábios e preparou-se para investir na ideia, porém um deputado a interrompeu, dizendo: "Vossa majestade, entrar no quarto de uma dama é inapropriado. Deveríamos discutir essa sua ação, já que você está noivo da Princesa Hektar."
Os deputados concordaram.
Apolo o encarou friamente, "Entrar ou não, isso não é assunto que lhe convém."
Ao lado, um apreensivo e curioso Thorfill pegou um cálice de vinho e o encheu. Ele prestou atenção no assunto, enquanto degustava o líquido amargo.
"Além do mais, eu não sou mais noivo da Princesa Hektar." Apolo disse cerrando os punhos, "Eu já cancelei o noivado e conversei pessoalmente com o imperador de Roma. Cesarino está completamente de acordo com a decisão."
"Oh." Um deputado exclamou surpreso, "Então podemos arranjar outra aliança?"
Thorfill perguntou-se: por que as pessoas são tão obcecadas em casamentos?
"Demerí é sua parente, deveríamos prevalecer o sangue real e casá-los." Um deputado disse atraindo a atenção de todos os deputados.
Demerí estava bebendo vinho nesta hora. Ao ouvir aquilo, ela cuspiu todo o líquido dentro de sua boca no ar e gritou: "O QUÊ?!"
Apolo ficou neutro com isso e apenas disse: "Prevalecer o sangue real? Demerí é minha prima de primeiro grau. Vocês podem não estarem cientes, mas nossa união iria resultar em herdeiros deficientes. Vocês iriam querer um governante com problemas?"
Obviamente, o preconceito tomou os semblantes dos deputados e eles desistiram da ideia rapidamente. Apolo tinha consciência de que isso iria acontecer e usou isso para fazê-los esquecer daquela ideia absurda. Ele não queria se casar com a sua prima, e nem ela queria se casar com ele.
Demerí rapidamente se recompôs e disse seriamente mudando de assunto: "Retomando sobre a medalha de bronze, eu acho uma boa ideia. Isso fará o povo ter mais esperança; se alguém não ganhar em primeiro lugar,
ainda terá mais duas chances."
As palavras de Demerí fizeram os deputados do parlamento declararem: haveria uma terceira medalha nos jogos olímpicos.
"Finalizamos esta reunião então." Um deputado disse se levantando.
"Graças a Zeus." Um outro deputado agradeceu.
Os deputados se levantaram e se espreguiçaram.
Apolo estava ainda sentado, com as costas perfeitamente retas. O seu semblante estava vazio de qualquer indício de emoção e seu olhar estava sereno. Ele virou-se para Thorfill, que estava bebendo o seu sétimo cálice de vinho e disse: "Você vai ficar bêbado se continuar neste ritmo."
Thorfill ficou com um jeito mais arrojado por conta do álcool estar afetando a sua mente e sorriu ao dizer brincando: "Se eu ficar bêbado, então, você deve cuidar de mim."
"Eu não sou obrigado." Apolo disse friamente, "Se você ficar bêbado, irei torcer para que você caia pelo caminho inteiro até o seu dormitório."
"Se eu me machucar, um feiticeiro médico terá que me avaliar." Thorfill deu de ombros, "Há apenas um médico confiável e excepcional ao meu lado."
Apolo bufou amargamente e escolheu parar de conversar com Thorfill, "Que seja."
Thorfill sorriu sabendo que se ele se machucasse, Apolo com certeza o ajudaria. Depois das palavras de Ravi, Thorfill conseguiu ser mais paciente com o jeito ignorante de Apolo.
Todos tinham armaduras, mas a de Apolo parecia ser impenetrável por conta de sua frieza e jeito cínico. Era como se ele quisesse manter todos longe com a sua forma arrogante e insípida de ser. Porém, Thorfill havia ultrapassado a armadura de Apolo há muito tempo…
O estrangeiro bondoso que havia oferecido bolinhos de mel para ele era Apolo, e ele às vezes poderia ser amável e gentil.
Então, Thorfill ignorou o 'que seja' de Apolo e disse: "É apenas um fato."
"Você não me conhece." Apolo disse com raiva por ter sido contestado.
"Se você diz…" Thorfill disse frivolamente.
"Por que agora você está concordando?" As sobrancelhas de Apolo se ergueram como se estivessem indignadas com as palavras pacíficas de Thorfill.
"Valha-me Odin!" Thorfill levantou-se com raiva, "Se eu concordo você acha ruim, se eu não concordo você acha ruim também."
Apolo levantou-se também, pronto para discutir.
"Ele disse o nome do seu deus em nossa presença!" Um deputado próximo gritou.
"Cale a sua boca." Apolo rugiu furiosamente por estar sem paciência e o deputado ficou em silêncio absoluto. Apolo retomou sua atenção para Thorfill novamente e disse: "Você…"
"Não." Thorfill interrompeu ele rapidamente para poder evitar uma briga.
Apolo ficou com tanta raiva que até mesmo uma veia saltou de seu pescoço e ele disse entre dentes: "Mas eu ainda nem disse nada."
"Não precisa também." Thorfill deu alguns passos para trás, ameaçando sair do salão festivo. Obviamente, o cálice estava cheio de vinho em sua mão e ele estava se afastando para poder beber em paz. Porém, seu olhar captaram a prima de Apolo, Demerí, se aproximando e ele retomou a sua posição ao lado de Apolo.
Apolo obviamente notou isso e virou-se vendo Demerí se aproximando. Logo em seguida, ele olhou novamente para Thorfill com os olhos cerrados e disse: "Não se iluda com ela."
"Por quê?" Thorfill olhou minuciosamente Apolo e perguntou: "Ela é comprometida com alguém?"
Apolo o encarou friamente e respondeu: "Ela não gosta de homens."
"Oh." Thorfill exclamou com surpresa. Ele parou de falar assim que Demerí se aproximou.
Ela estava carregando um vaso de cerâmica e estendeu para Thorfill, dizendo com um sorriso largo nos lábios: "Nobre viking, meu primo não bebe, então beba você comigo!"
Thorfill rapidamente estendeu o seu cálice e foi abençoado com vinho. Ele bebeu todo o líquido amargo em um gole só e Demerí disse impressionada: "Finalmente um oponente digno."
Então, Demerí bebeu todo o vinho que continha no vaso de cerâmica e Thorfill disse: "Acho que não sou tão digno assim. Você ganhou de mim."
Apolo encarou a disputa de dois alcoólatras com nojo e afastou-se rapidamente dos dois.
Thorfill ao perceber isso tentou segui-lo, porém Demerí enfiou-se na frente dele e sorriu educadamente ao dizer: "O bom humor daquele ali é inexistente. Não há motivos para segui-lo."
As sobrancelhas de Thorfill franziram-se. Ele suspirou e abaixou o seu cálice, o pousando em um tapete próximo; onde Bellamy estava sentado enquanto comia com as mãos. Thorfill recompôs sua postura e fitou Demerí dizendo: "O bom humor dele realmente é inexistente, mas eu não estou a procura de um bobo da corte. Com licença."
Demerí encarou Thorfill com os olhos cerrados e ficou em silêncio; um sorriso malicioso dançou em seus lábios.
Thorfill olhou minuciosamente pelo salão festivo cheio em busca de Apolo. Porém, ele parecia ter evaporado como água e sumido do ambiente agitado e incomodativo para Thorfill. De repente, ele sentiu uma presença atrás de si e virou-se com esperanças, porém, havia apenas um homem tocando harpa atrás de si.
O homem fitou Thorfill por um momento e sorriu; um sorriso suave e rápido. Thorfill não entendeu isso e virou-se com um semblante confuso. Bem nesse momento, ele esbarrou com alguém.
"Quanta emoção ao levar um flerte."
A pessoa à sua frente era ninguém mais ninguém menos que Apolo!
"Como assim flerte?" O cenho de Thorfill franziu-se com confusão, "Ele apenas sorriu…"
Uma das sobrancelhas de Apolo se ergueu e os seus olhos cerraram-se, "Você não entende muito de interesse sexual ou amoroso, não é? Um sorriso oculta muitas intenções, porém, o sorriso de Armetris foi bastante indicativo."
"E você entende sobre interesse?" Thorfill rebateu a pergunta franzindo o cenho.
Os olhos azuis escuros de Apolo se ergueram e eles encararam profundamente os olhos escuros de Thorfill. Apolo respondeu frivolamente: "Apenas o básico."
Thorfill se perguntou: o que seria apenas o básico?
Apolo depois pensou por um tempo e mudou a sua resposta ao falar novamente: "O básico do básico."
Thorfill encarou Apolo sem receio algum e declarou: "Você não sabe nada."
Os cantos dos lábios de Apolo pareceram se erguerem um pouco quando ele disse: "Tem razão, eu não sei. Mas, Armetris com certeza está interessado em você, pois ele está caminhando agora para cá. Boa sorte, tourinho."
Thorfill olhou apreensivamente para trás e depois olhou desesperadamente para frente, porém Apolo havia fugido com o rabo entre as pernas!
Armetris aproximou-se em passos lentos, como se não quisesse nada de Thorfill. Ele disfarçadamente cambaleou para o lado de Thorfill e disse: "O vinho heleno é muito forte, o nobre viking deveria tomar cuidado."
Não havia vinho no mundo capaz de deixar Thorfill bêbado, mas ele educadamente aceitou o conselho e falou despreocupadamente: "Agradeço o conselho. De fato, o vinho é muito forte, porém a minha resistência ao álcool é mais forte ainda."
Quando o assunto se tratava de álcool, o ego dele se tornava do tamanho do Oceano Atlântico para se gabar!
Armetris foi encorajado pelo espírito selvagem de Thorfill e bebeu vários litros de vinho. No final, ele começou a tocar harpa novamente; em ritmos acelerados e as dançarinas se movimentaram com mais velocidade e graça sexual. Os deputados rapidamente se sentaram para ver o espetáculo e desistiram de ir embora.
Os olhos de Thorfill se desviaram daquilo e ele encarou Bellamy; que depois de tanto comer, acabou adormecendo sobre um tapete vermelho de seda.
Thorfill sorriu levemente ao ver isso e pegou Bellamy. Ele saiu do salão festivo carregando o seu irmão caçula e foi para a câmara de descanso de Tilf. Ao chegar lá, a sua irmã já estava dormindo e ele colocou Bellamy ao lado dela. Thorfill se retirou logo após isso e, sem compreender o motivo, retornou para o salão festivo.
Ele caminhou apressadamente pelos corredores vazios e estranhou isso.
Onde estavam os serventes?
Thorfill estranhou isso e o salão festivo pareceu ficar distante. Os seus passos ficaram mais frenéticos ao notar alguns fatores incomum.
Um palácio não estaria em silêncio enquanto houvesse uma reunião.
O som de harpa havia parado.
As risadas dos deputados sumiram.
Havia um cheiro de sangue no ar.
Thorfill escancarou a porta do salão festivo e ele olhou para todos os lados do ambiente silencioso. Era como ele imaginava, havia realmente algo errado acontecendo.
Havia um corpo no chão e alguém ajoelhado ao lado dele.
A respiração de Thorfill se descontrolou com a cena horripilante. O corpo estava com várias perfurações e o sangue coagulado se juntou em uma poça vermelha no chão.
As pessoas que estavam ao redor do corpo despertaram-se do susto assim que Thorfill abriu as portas. Os olhares abismados se atraíram para ele e as pessoas gritaram: "O SELVAGEM MATOU O RAVI!"
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