Pular para o conteúdo principal

Capítulo 5

 Volume 1

     Capítulo 5: Etapa Concluída 

O homem transmigrado não era feito de ferro — é claro que ele queria aqueles dangos caramelados, mas fez drama antes de finalmente pegá-los e começar a comê-los em mordidas lentas. 

– Você está fazendo desfeita dos dangos caramelados que comprei com seu próprio tael de prata, Yin Chang? – Brincou. 

– Não estou. – O tal apenas o contrariou. 

– Esses são meus pensamentos. – O outro riu, sem fingir ser agradável. – Andamos por quase um dia inteiro e eu ainda não vi você comer. E quando finalmente há a oportunidade, você nega os humildes dangos caramelados comprados por mim. 

O protagonista não lhe deu nenhuma reação com a face. 

A essa altura, o sol já estava se pondo a oeste. Os raios solares do pôr do sol eram claros como gemas de ovos, incapazes de queimar a pele por não serem suficientemente fortes. As ondas eletromagnéticas não traziam consigo desconforto algum. Ainda iluminando o rosto jovial do protagonista, e projetando sombras tênues em seus lábios, tingidos por uma coloração rosada, deu a Shen Shining a sensação de estar vendo uma pintura a óleo ao olhá-lo fixamente; sem fazer questão de disfarçar esse ato.

As curvas dos olhos dele não eram tão proeminentes e estreitas, tornando-o bem diferente dos demais jovens que foram avistados anteriormente no condado festivo. Em mais algumas olhadas dúbias, fora possível descobrir também que havia duas minúsculas pintinhas pretas e, perfeitamente, redondas na bochecha direita dele. Por não terem sido vislumbradas antes, Shen Shining admirou-as, entendendo, por fim, como as aparências eram capazes de enganar as pessoas. 

Todos os protagonistas que possuíam haréns deveriam ser impecáveis, terem aparência distinta das outras pessoas, o porte físico mesomorfo, o cabelo comprido como símbolo de masculinidade, serem inteligentes, e fortes. Caso contrário, muitos livros estariam fadados ao fracasso. Entretanto, o quesito mais importante, sem dúvidas era: ser selvagem… 

Na cama. 

Mesmo que Yin Chang fosse esbelto e airoso, beirando ao nível celestial e angelical, não seria possível enganar ninguém por muito tempo. Ele possuía a liderança de um harém com duzentos beldades voluptuosas, e aqueles seus olhos pretos opacos, com dobras epicânticas iriam transbordar entusiasmo e desejos impuros assim que as vissem semi-nuas. 

Aquela personalidade retraída dele iria desabar a qualquer momento; o homem transmigrado possuía absoluta certeza disso, e deduziu que aquele protagonista circunspecto poderia tornar-se um protagonista mais comunicativo e agradável na obra — sem dúvidas, o completo oposto do que era agora. 

– Desfeita descarada! – O outro ainda continuou a dramatizar, contendo a vontade de explicar quão ultrajante aquela desfeita havia sido. – É impossível que você tenha comido sem que eu tenha visto. Estive ao seu lado por horas sem distrair-me. 

– Comi pelas redondezas do templo. – Yin Chang resolveu revelar friamente, em busca de cessar aquela dramatização. 

– Oh? Havia algo comestível por perto? 

– Uvas. 

– Puxa, eu gosto tanto de uvas, principalmente daquelas de cor verde-amarelada sem caroço. As que você comeu eram dessa cor? – Shen Shining viu o jovem acenar com a cabeça. 

– Era a Sultanina. – disse ele, demonstrando impaciência. 

– Céus, então tem esse nome peculiar…

Como estava escurecendo pouco a pouco, foram acesas lamparinas vermelhas ao longo da rua estreita onde eles dois estavam conversando sobre assuntos irrelevantes. 

As crianças que brincavam próximas deles, corriam para lá e para cá estando desacompanhadas de figuras adultas, fazendo com que os sentinelas que estavam pendurando lamparinas de ferro nos hastes dos postes coloniais, largassem suas respectivas funções para direcioná-las até seus responsáveis. 

As chamas vermelhas e ardentes aprisionadas dentro das lamparinas iluminaram o fluxo interminável de crianças, e como elas cessaram os passos para que pudessem ver um macaco fazendo malabarismo no centro de uma roda cheia de homens. 

Dando a Shen Shining a chance de distrair-se ao assistir de longe a performance do macaco, que até usava um pequeno gorro de crochê sobre o topo da cabeça, ele deixou de ter coerência mental e ousou fazer um pedido ao protagonista:

– Podemos ir até lá para assisti-lo? 

– Não. – O tal discordou sem pensar duas vezes. – Está ficando tarde, deveríamos ir. 

– Iremos assistir o show de malabarismo apenas um pouquinho. – Shen Shining insistiu sorrindo. – Apenas isso não irá atrasá-lo até Chang'an, irá? 

– Irá.

– Puxa vida. – Aquele sorriso chegou a dobrar de tamanho. – Prometo recompensá-lo depois se formos até lá, o que acha? 

O protagonista reprimiu gestos de impaciência e seguiu de acordo com o desejo do Mestre do Chá, tendo na face uma expressão escrutável, sem querer disfarçar o mesmíssimo descontentamento que sempre sentia em ambientes rumorosos.
 
Em resignação, sucumbiu a aquele desejo simples depois de muito hesitar, contudo, não aproximou-se da roda o suficiente como o tolo fizera, escolhendo não ficar adjunto aos demais telespectadores, para acompanhar de perto a atração insigne. Tampouco fazia questão de tal coisa. 

Permanecera distante, impenetrável como uma muralha fortificada e solitária, contemplando em como as chamas aprisionadas dentro das lamparinas eram bruxuleantes e, inclusive, fascinantes.  

De tal forma que, a mudez dele ocultasse por completo a sua presença naquele local, Shen Shining sentiu a tensão enrijecer cada um de seus membros ao virar-se lentamente para trás, precavendo aquele tipo de atitude desinteressada e ignorante por parte do protagonista. Não era preciso mencionar que, em consequência do ato indiferente, a decepção não tardou a chegar e, o plano de atrasá-lo até Chang'an, poderia fracassar. 

Tão maldoso. 

Shen Shining sentiu que estava buscando um pontinho de luz, tateando pela escuridão desde que fora teletransportado para Guerrilha de Zhou. No escuro, almejando calor intenso por estar temendo a morte pela segunda vez, estremecendo pela falta de informações e vivendo com medo nas espreitas, gritou o quanto pôde por explicações. E, jazendo ansiosamente dentro de uma caverna, aguardou por respostas que nunca vieram. Apesar do eco cavernoso retumbar, parecendo tirar sarro de sua situação, não fora possível divagar sobre a identidade do Mestre do Chá. 

Se ele de fato fosse um figurante naquele mundo sem lei, seria preciso tropeçar mil vezes, antes de finalmente conseguir ficar com os pés firmes no chão lamacento. 

Shen Shining chegou a mentir para si mesmo diversas vezes, dizendo que conseguiria sobreviver naquele mundo fingindo ser o Mestre do Chá, enquanto aguardava a verdade esbofetear sua face. Não era evidente que seria necessário passar por muitas metamorfoses, sendo muitas versões diferentes de si mesmo para adaptar-se àquele tipo de vida rústica, até não recordar-se mais de quem era ou quem fora em sua vida passada? 

Por todo o tempo percorrido, tivera a ilusão de estar vagando errante, e descalço ao lado do protagonista, em estradas cheia de espinhos e cacos de vidros. Por muitas vezes, pensara que seria preciso aprender a voar, porque ele jamais desistiria de sobreviver, seja sendo o Mestre do Chá ou qualquer outra pessoa pisando sobre os empecilhos. 

E embora fosse possível perder um pouco mais de sua essência a cada queda, até quando não sobrasse mais nada pela qual valha a pena lutar, Shen Shining iria costurar os pedaços dele que caíram ao longo do caminho e seguir em frente. 

O prelúdio era sim sobreviver, sempre fora, até mesmo no mundo moderno, onde preencher o vazio com pílulas que se dissolvem rápido demais, era o melhor método para esquecer-se da sensação de solidão. 

Onde quer que ele estivesse, o que quer que tocasse, ou o que quer que olhasse, sentia que não pertencia a nada e não se encaixava em lugar algum. Ele era um fugitivo num mundo sem saídas. E mesmo que Li Yan lhe dissesse que a resposta do porquê daquela sensação de não pertencimento estivesse dentro dele, ele lhe assegurou que dentro dele não havia absolutamente nada. 

Apesar disso, garantiu que sobreviveria, engolindo quase todas as suas queixas e frustrações. Executar este método por anos lhe garantiu desempenho em cima da gigantesca angústia que sentia estando vivo. Despir-se da própria essência em busca de encaixar-se na sociedade lhe rendera bons agrados ao longo dos anos no ramo profissional e acadêmico. Sendo um cidadão a seguir regras estritas, escolheu esculpir o coração com gelo, fazendo assim, os sentimentos serem congelados, até não restar nenhum resquícios de possuir personalidade frágil. 

Sem dúvidas, a batalha chamada vida seria mais afável com os humanos desta forma. Mas a guerra jamais seria vencida sem liberdade. Afinal, o que determinava a vitória era a coragem. 

O homem transmigrado iria lutar por sua nova vida. 

Finalmente conseguindo alcançar o almejado sentimento de bravura que o acalentava, Shen Shining pensara em progredir com todo seu coração envolvido nessa atitude. Marchou para trás assim que infiltrou-se na roda e caminhou até Yin Chang, dizendo a este: 

– O que você está fazendo? – A voz permanecendo baixa, sem o timbre trêmulo expôr o nervosismo dele. 

A extensão de auréolas douradas, em volta das lamparinas de ferro, continha embelezamento o suficiente para ser observada com tanto apreço pelo protagonista, que nada lhe respondeu. 

– Yin Chang, venha comigo para perto daquele chafariz. – Continuou a dizer. – Há apenas crianças baixas paradas ali. Poderemos ver o macaco sem precisar aproximarmos muito se ficarmos atrás delas. 

Todas as crianças próximas do chafariz eram tão pequenas e baixas que poderiam tomar banho dentro de cochos de vacas. Posicionando-se atrás dela, os dois indivíduos teriam uma vista mediana. Claro, não seria tão emocionante para nenhum dos dois ver o macaco fazendo truques simples, como manusear três uvas por toda a extensão de seu corpo, sem deixá-las cair. 

– Por que eu deveria ir vê-lo? – Yin Chang estreitou os olhos escuros. – Ele que venha até mim. 

– Oras. – Shen Shining suspirou alto. – É um Sagui-Imperador. Essa espécie pequena de macaco não costuma aproximar-se de humanos sem possuir motivos cabíveis e… o quê?! 

Quem poderia imaginar que, assim que encaminhasse os olhos até as botas do protagonista, testemunharia aquele macaco de bigodes brancos estendendo o pequeno gorro vermelho feito de crochê, elevando-o à altura dos joelhos do jovem, enquanto sustentava-se nas patas dianteiras de pelagem acinzentada.

Yin Chang curvou-se de forma simples até ele, estendendo a mão, onde no centro estava assentado um tael de prata. 

O Sagui-Imperador agarrou a riqueza e abrira a boca, dando a impressão de estar sorrindo ameaçadoramente. Revelando os dentes pontudos como se quisesse avisar que estava se sentindo intimidado, ergueu o gorro até os joelhos de Shen Shining, como se quisesse dizer-lhe para pagá-lo também. 

– Puxa vida, é com muita tristeza que lhe digo que não possuo o posse de nenhum tael de prata ou de ouro em meus bolsos. – Ele agachou-se na frente do espertinho de, aproximadamente, trinta centímetros de altura e riu com gosto. – Quando eu era criança, sempre quis adotar um Sagui-Imperador. 

Mas como as autoridades ambientais poderiam permitir tal crime qualificado, como o contrabando de um único Sagui-Imperador da bacia Amazônica para Luoyang?

– Se eu estivesse em minha região moderna, teria que optar por comprar uma pelúcia. – Fora a vez de Shen Shining estreitar os olhos. – Mas estando aqui, posso simplesmente capturar você sem correr o risco de ser preso.

Executando um recuo quase que instantâneo como meio de defesa, o macaco escondeu-se entre as pernas do protagonista. Tendo nos olhos assustados o reflexo simples do novo inimigo, abrira a boca para expor duas presas pontudas e encavaladas na gengiva superior. As linhas predominantemente platinadas e agudas de seu bigode, traçaram como pinceladas o pequeno maxilar rosado dele. 

Aquela espécie de macaco destacava-se dos outros primatas justamente por causa dos bigodes branco. A cauda avantajada, que, bastante usada como meio de locomoção entre os galhos das árvores, facilitava muito os movimentos dessa espécie comum em âmbito subtropical e tropical. Podendo viver por cerca de vinte ou mais anos, o Sagui-Imperador era desejado por muitas pessoas solitárias. 

– Xiao[1] é um animal livre por natureza há mais de quinze anos, e compreendeu a intenção do Mestre do Chá como ameaçadora. – Assim que o Yin Chang disse isso, tratou as olhadas assustadas do Sagui-Imperador com ânimo leve. 

– Xiao? – O vento gélido do espaço amplo passou reto por Shen Shining, fazendo-o respirar fundo. – É o nome dele? 

O protagonista confirmou quando balançou a cabeça. 

– Yin Chang, Xiao parece conhecê-lo ou é impressão minha? 

Quando esse questionamento fora feito por Shen Shining, ele notara que o protagonista estava prestes a afastar-se do centro do condado junto com o Sagui-Imperador. O rosto dele estava pálido há algum tempo, e os passos já não eram tão velozes como antes. Ao vê-lo daquela forma, era indetectável para o tolo sua própria expressão quando se apressou em alcançá-lo. 

– Iremos descansar neste distrito. – Yin Chang havia dito. – Continuaremos com a viagem amanhã. 

E claro que Shen Shining recebeu a notícia de braços abertos. Ficando feliz além da conta, gritou internamente com regozijo: ancião, veja. Consegui atrasá-lo por um dia inteiro! 

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Xiao 小 : Significa Pequeno 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O MESTRE SERVE ESTE PROTAGONISTA

APRESENTAÇÃO DA OBRA:  SINOPSE SUJEITA A ALTERAÇÃO:  – “Há apenas uma única ação tola, capaz de gerar uma grande consequência do que, um dia, alguém julgou ser uma boa escolha.” – ditou o pai, sorrindo calmamente. – Apaixonar-se é essa escolha, Yin Chang.  Nenhum leitor troll seria capaz de revelar que essa frase tão reflexiva e pertencia ao livro "Guerrilha de Zhou", por simplesmente odiá-lo. E Shen Shining, que era um leitor troll, não era diferente dos demais.  Ele, que encontrou por acaso o arquivo misterioso do livro em seu notebook, acabou tendo a curiosidade atiçada. Por ler apenas metade da sinopse curta de Guerrilha de Zhou, uma chuva de insultos saiu de sua boca:  – Harém, lutas, artes marciais, plot twist? Que porcaria é essa?!  Abocanhando um pedaço de pizza envenenada, ele continuou xingando até perder o foco da visão e cair no chão, morto. O tal se vê em uma situação problemática quando tem a alma teletransportada para o enredo libertino do livro que l

BLLAU NOVELS

Apresentação da obra: O Tabuleiro e a Peça Viking, escrito e revisado por Laura Sampaio, tendo corpo de texto baseado em light novels asiáticas e tendo como gênero principal o BL explícito e fantasios.                                 O TABULEIRO E A PEÇA VIKING  Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Mistério, Sobrenatural, BL, História alternativa, Romance, Mitologias  Título Nativo: O Tabuleiro e a Peça Viking  Subtítulo: Diante da liberdade, eles dois farão de tudo Status do original: Quarta temporada em fase de escrita Avisos: Violência, gore, lemon explícito Autor(a): Laura Sampaio Capítulos: 45 + 1 extra   Classificação: [+18] Tipo: WebNovel Ano: 2022 Sinopse Em um mundo governado por diversos deuses, há um viking que procura domar os cinco oceanos informados pelos druidas.  Thorfill é o Lendário Viking de Reiwa. Ele é um jovem absurdamente forte que comanda mil homens vikings ao navegar em busca de tesouros perdidos. Thorfill, além do mais, pertence à uma ilha

PRÓLOGO

 Volume 1  Prólogo  Era uma noite nevada e silenciosa no vigésimo terceiro aniversário de Shen Shining. Não poderia ser mais perfeito. Como um camundongo de biblioteca que era e, um nerd sem vida social, ele estava enrolado numa coberta quente em frente a tela do notebook, procurando algum livro interessante nas plataformas digitais, para que pudesse desfrutar de uma leitura fenomenal em seu próprio aniversário.  Romance quente não era algo que lhe cativava, pois em seu ponto de vista crítico e venenoso, quase não havia desenvolvimento para os casais literários; eles apaixonavam-se rápido demais, eram criminosamente melosos, mesmo que não houvesse química entre o protagonista masculino e a coadjuvante feminina. Tão insuportável, irritante e desnecessário!  Outros gêneros dos quais passara longe nos últimos anos foram: Mistério, Terror, Ficção Adolescente, Ação e Literatura Feminina. E quanto a Romance Dark e Ficção Policial? Ah, Shen Shining tinha um desejo avassalador e incontrolável